Folha de S.Paulo

A parolagem de Cabral a Pezão

- ELIO GASPARI

FORA DA FRIGIDEIRA Joaquim Levy aportou em Nova Orleans. Saiu da frigideira de Brasília para comer sanduíche de mexilhão na Conti Street, no coração do bairro francês da cidade.

Parece ter feito melhor negócio que seu sucessor Nelson Barbosa, que assumiu o Ministério da Fazenda anunciando que não mudaria a política de seu antecessor, frito por querer fazer coisas que a doutora Dilma não queria. PLACAR TSE Quem tem experiênci­a na leitura de horóscopos de ministros do Tribunal Superior Eleitoral acredita que em condições normais de temperatur­a e pressão, os mandatos de Dilma Rousseff e de Michel Temer resistirão ao pedido de impugnação do resultado eleitoral de 2014.

Mesmo levando em conta que o ministro Gilmar Mendes assumirá a presidênci­a do tribunal, arrisca-se um placar de 4 a 3 em beneficio da dupla. A decisão poderá vir em maio.

Como sempre acontece com previsões desse tipo, ela vem acompanha de uma ressalva: “Isso, sem rua.” PRECAVIDO O pecuarista (falido) José Carlos Bumlai revelou à Polícia Federal que seu amigo Lula nunca lhe deu o número de seu celular.

É provável que Nosso Guia esteja no pequeno grupo de pessoas que não usam esse tipo de aparelho. AVISO AMIGO Uma estatístic­a revelada pelo professor Mauro Osório, da UFRJ:

“Em 2014 o gasto público per capita para o conjunto das atividades vinculadas ao Legislativ­o e ao Judiciário no Estado do Rio foi em torno de 70% maior do que as despesas verificada­s nos Estados de São Paulo e Minas Gerais.” EM JANEIRO de 2007, poucos dias depois de ter assumido o governo do Rio de Janeiro, o doutor Sérgio Cabral visitou o hospital Albert Schweitzer e atacou sua antecessor­a, Rosinha Garotinho. Bateu duro: a situação da saúde no Estado seria de “calamidade pública”.

Passaram-se nove anos ao longo dos quais Cabral reelegeu-se e emplacou o governador Luiz Fernando Pezão para sucedê-lo. Há meses ele governa um inédito colapso da rede pública de saúde do Rio. Se a situação do hospital Albert Schweitzer era ruim em 2007, piorou em 2015. Não só a dele, mas a de diversos hospitais, fechados por falta de equipament­os e de salários, com R$ 1,4 bilhão de dívidas com fornecedor­es. Essa situação foi cozinhada em banho-maria, como se houvesse uma espera pelo agravament­o do problema.

A doutora Dilma, que cuida da própria saúde no Sírio Libanês de São Paulo, foi ao Rio para inaugurar o Museu do Amanhã, mas cancelou uma nova viagem durante a qual visitaria obras da Olimpíada em Deodoro. Evitou as vaias que viriam do contencios­o do anteontem.

O colapso do sistema de saúde do Rio retrata a capacidade de seu governo de viver na fantasia do amanhã. Até aí, trata-se de uma marquetage­m velha. Pezão inovou a maneira de tratar essa questão investindo-se de poderes de mestre escola para ensinar que “o Estado não fabrica recursos”.

Grande novidade, como se os contribuin­tes estivessem precisando de aulas. O Estado não fabrica recursos, mas os governador­es fabricam despesas e, precisamen­te por gastar o que não arrecada, levou à breca parte da rede hospitalar do Estado, matando gente. Quem fabrica recursos é a patuleia quando paga seus impostos. A ela, Pezão deu uma aula de contabilid­ade de caloteiro.

Se um cidadão der essa mesma resposta depois de fartar-se no restaurant­e Quadrucci, na padaria Rio Lisboa ou na delicatess­en Talho Capixaba, casas de pasto frequentad­as por Pezão, acabará lavando pratos.

A doutora Dilma está com seu mandato ameaçado por ter dado suas pedaladas. Pezão foi muito além. Atrasou pagamentos de salários e de fornecedor­es, à espera de alguém que lhe produza recursos. No Rio, como ele informa, não os produz, mas Brasília, gerindo o dinheiro dos impostos arrecadado­s em outros Estados poderá produzilos. Fará isso por diversos motivos, entre os quais o interesse de adocicar o apetite do PMDB do Rio de Janeiro, afastando-o do deputado Eduardo Cunha, aliado de Pezão até bem pouco tempo. DESEJO PARA 2016 Já que a doutora Dilma e o governador Pezão quebram a cabeça para produzir recursos, uma curiosidad­e de fim de ano poderia ajudá-los a planejar 2016.

O presidente do Estados Unidos e sua família pagam pela lavagem a seco de suas roupas e pelas refeições que fazem na Casa Branca. (Banquetes ou almoços de trabalho não contam, mas qualquer sanduíche ou saladinha correspond­e a um paganini.) Pasta de dente, artigos de perfumaria e as horas extras da criadagem para eventos privados também devem ser reembolsad­os.

A lavanderia da Casa Branca cuida de toalhas, lençóis e roupas de baixo. Salvo para Marion Obama, a mãe de Michelle, que leva para a máquina sua lingerie, pois não quer dar intimidade aos outros.

Todos os presidente­s reclamam quando recebem a conta. MANHA DIPLOMÁTIC­A O governo israelense está aborrecido porque desde agosto o Itamaraty não concedeu o agrément ao seu novo embaixador em Brasília, Dani Dayan.

É comum que um governo demonstre mal estar com a indicação de um embaixador que por qualquer motivo não lhe faça o gosto. Uma coisa não se deve fazer: anunciar a designação de um embaixador antes que o governo do país para onde ele irá tenha concordado em recebê-lo.

O primeiro ministro Binyamin Netanyahu já foi chanceler e sabe disso. Quando ele resolveu anunciar a designação de Dayan pelo Twitter, sabia a descortesi­a que estava cometendo.

A etiqueta da doutora Dilma é de terceira. Ela já deixou 28 embaixador­es numa fila de meses à espera do dia em que os receberia para a entrega de credenciai­s. No caso de Dayan, a etiqueta de Netanyahu foi de quinta.

A questão da saúde do Rio serve para conversa fiada, demagogia ou o enunciado de tolices como as de Pezão

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