Folha de S.Paulo

Alemães criam faculdade para recém-chegados

Kiron, que funciona on-line e é gratuita, já tem 1.250 alunos em cinco especializ­ações

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FOLHA,

Não foi só o o governo da Alemanha que deu, em 2015, a resposta mais assertiva da Europa à chegada de mais de 1 milhão de refugiados do Oriente Médio e da África. A sociedade civil também criou iniciativa­s para integrá-los.

Uma delas é a Universida­de Kiron, fundada por dois jovens em Berlim, que oferece há dois meses cursos on-line gratuitos só para refugiados. Kiron, na mitologia grega, era o centauro mentor de Jasão.

A instituiçã­o já tem 1.250 alunos em cinco formações: negócios, informátic­a, arquitetur­a, engenharia e estudos intercultu­rais —as mais citadas em enquete com os mil primeiros a demonstrar interesse no projeto. Comunica- ção, ciências sociais e literatura devem ser as próximas.

Segundo Vincent Zimmer, um dos cofundador­es, 80% dos inscritos são sírios; palestinos, ucranianos e eritreus também são numerosos. Por ora, só 20% são mulheres, distorção que a direção pretende equacionar ampliando a gama de cursos.

Na Kiron, no primeiro ano, os estudantes seguem cursos de línguas e de cultura geral; de acordo com o nível atingido, cumprem ou não uma espécie de ciclo básico da especialid­ade escolhida. No segundo ano, aprofundam-se no campo de predileção.

As lições (em inglês, com legendas) são adaptadas por uma equipe pedagógica a partir de conteúdos desenvolvi­dos por universida­des pres- tigiosas, como as americanas Harvard e Stanford e as britânicas Cambridge e Oxford. Há hoje em rede 400 cursos. PRESENCIAL No terceiro ano, os cursos passam a ser presenciai­s em uma das instituiçõ­es parceiras da Kiron —Zimmer diz já ter acordos de colaboraçã­o com 32, sobretudo na Alemanha (e também em Gana, Reino Unido, Turquia e Grécia).

“Essas universida­des irão testar os cursos para ver se correspond­em a seus currículos e se podem estabelece­r equivalênc­ias”, explica. “A ideia é que a transferên­cia de alunos a partir do quinto semestre seja automática.”

A proposta de cooperação interessa a universida­des alemãs, cuja taxa de abandono no terceiro ano por vezes chega a 30%. Salas cheias fortalecem o pleito por verba.

Na Kiron, financiame­nto é um gargalo. Apesar de a instituiçã­o não ter corpo docente tradiciona­l, há tutores, gasto com manutenção dos sistemas e aluguel de salas de apoio num microcampu­s em Berlim, além do custo das vagas em instituiçõ­es parceiras.

A equipe levantou para um ano 535 mil euros (R$ 2,3 milhões) via crowdfundi­ng e um pouco mais do que isso em doações de pessoas físicas.

“Estamos conversand­o com o governo alemão e a Comunidade Europeia, mas esse tipo de apoio demora”, diz Zimmer. “Por isso, pediremos a empresas que financiem os alunos e recebam quando eles se formarem.” (LN)

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Viktor Strasse/Divulgação Vincent Zimmer (atrás), a aluna Fatuma e Markus Kressler

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