Saturada, Pequim prepara reforma urbana
A espessa e fétida neblina que em novembro tomou Pequim três vezes, o trânsito caótico, o custo elevado da moradia e os longos deslocamentos para o trabalho tornam viver na capital chinesa uma resistência constante.
Buscando melhora no curto prazo, o governo local quer deslocar parte das funções administrativas do centro para um subúrbio a leste da cidade, apertar o controle populacional nas áreas centrais e remover atacadistas.
Com a migração de escritórios da administração para Tongzhou, a 40 minutos do centro, até 2018, o governo quer deslocar 400 mil pessoas para o subúrbio.
A capital tem hoje mais de 21,5 milhões de pessoas, e a meta é estabilizar esse total em 23 milhões até 2020.
A cidade também se empenha em liberar espaços usados por mercados atacadistas, recicladores e indústrias. Neste ano, 51 atacadistas foram retirados de Chaoyang, uma área central de Pequim. MÉDIO PRAZO Esse movimento se integra a um plano de médio prazo para integrar Pequim, Tianjin (a 110 km) e a província de Hebei, desenvolvendo a grande região de Jing-Jin-Ji —“Jing” para Beijing, “Jin” para Tianjin e “Ji” para o no- me tradicional de Hebei.
Esse aglomerado tinha, em 2013, população estimada em mais de 110 milhões de pessoas, quase três Argentinas.
A ideia é ampliar circuitos de trens rápidos e estradas, serviços de hospitais e escolas, dispersar indústrias da capital e setorizar os serviços. A descentralização reduziria a pressão sobre Pequim, com melhoria da qualidade do ar, do trânsito e de moradia.
Enquanto a população da capital e arredores avança, outras concentrações urbanas chinesas desaceleraram nos últimos cinco anos, diz Wendell Cox, da consultoria americana Demographia.
“A China continua com menos de 60% da população em área urbana, e o governo admite que manter o crescimento econômico requer também urbanização.”
Para Cox, abrigar mais gente em Pequim não faz sentido. A cidade tem hoje milhares de pessoas vivendo em cubículos subterrâneos ao custo mensal de R$ 180 a R$ 430 (um apartamento em um prédio de padrão internacional custa R$ 21 mil por mês).
Apelidada de “tribo dos ratos”, são essencialmente migrantes de baixa renda.
Meng Fang, 25, de Shaanxi, vive há quatro anos em um quarto sem janela no subsolo de Liangmaqiao, área nobre de Pequim, e diz que se mudaria para o subúrbio se houvesse trabalho perto.
A expectativa é que JingJin-Ji integre essa população.
Para Annette Kim, autora de estudos sobre a “tribo dos ratos” na Universidade do Sul da Califórnia, “esse é um desafio real dadas as dinâmicas do setor imobiliário”.