Folha de S.Paulo

Indústria brasileira é lanterna mundial no terceiro trimestre

Produção do setor teve o pior desempenho entre mais de 130 países

- RAQUEL LANDIM

O Brasil está na lanterna da indústria global. A produção do setor registrou o pior desempenho no terceiro trimestre entre mais de 130 nações, que representa­m 95% da indústria no mundo.

A indústria brasileira recuou 11% em relação ao mesmo período do ano passado. No fechado do ano, a queda deveserdec­ercade8%.

O estudo foi feito pelo Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvi­mento Industrial) com base em dados reunidos pela Unido, órgão das Nações Unidas que também estuda o desenvolvi­mento industrial.

O resultado brasileiro é muito pior que a média da indústria global, que subiu 2,7% na mesma comparação. Nos países desenvolvi­dos, a produção industrial se recupera da crise e cresceu 1,2% no terceiro trimestre, enquanto nos países em desenvolvi­mentoaalta­foide5%.

A América Latina tem o pior desempenho por região (-3,2%). Na América do Norte, houve alta de 1,8%, e, na Europa, de 2%. Na África, onde a indústria é incipiente, houve estagnação (0,1%).

Os países latino-americanos tiveram uma fraca performanc­e, mas nada se compara ao Brasil. No Peru e na Colômbia, as quedas foram de 3,2% e 0,3%, respectiva­mente. A Argentina ficou estável. Chile e México são exceções com resultados positivos. A Unido não inclui a Venezuela em seu levantamen­to.

“O tombo da indústria brasileira é enorme, com uma crise conjuntura­l e estrutural”, afirma David Kupfer, coordenado­r do grupo de indústria do Instituto de Economia da UFRJ.

O economista diz que a indústria enfrenta forte recessão após perder densidade e competitiv­idade, em razão da falta de investimen­tos e da transferên­cia de produção para o exterior.

“A crise brasileira é puxada pela queda do investimen­to por causa da falta de confiança, o que atinge diretament­e a indústria”, diz Júlio Sérgio Gomes de Almeida, consultor do Iedi e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda.

Para especialis­tas, as medidas adotadas pelo governo Dilma no primeiro mandato não salvaram a indústria, porque focaram a demanda por produtos, e não o aumento da competitiv­idade. Um exemplo é a desoneraçã­o de IPI para veículos e móveis.

Além disso, a política anticíclic­a do governo, iniciada para combater os efeitos da crise global em 2008 e 2009, durou tempo demais e antecipou para 2010 e 2011 uma demanda de produtos que deveria estar ocorrendo hoje.

“E não há horizonte de melhora”, diz Kupfer. Para ele, a desvaloriz­ação do câmbio vai trazer alívio, mas teria que durar muito tempo para que a indústria voltasse a investir em produtivid­ade e inovação.

A performanc­e do Brasil é muito pior que a dos demais países em desenvolvi­mento, cuja produção industrial cresceu, em média, 5% no terceiro trimestre.

O desempenho ainda é puxado pela China, cuja indústria avançou 7%, o pior resultado desde 2005, mas ainda assim impression­ante.

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