ANÁLISE Globo age como o pai que faz de tudo para filho ganhar peladas
FOLHA
Quando eu era criança, havia na rua um menino cujo nome não lembro, mas que chamarei de Mauricinho. O pai de Mauricinho era rico e o cobria de mimos. Na pelada, enquanto todos jogavam com uma bola Dente de Leite ovalada, Mauricinho aparecia com uma Adidas de couro. Todos queriam jogar no time dele, porque trazia uniformes e presenteava a molecada com camisas oficiais. Assim, escolhia os jogadores que quisesse e vencia todas.
Ao ler sobre cotas de TV que a Globo pagará aos clubes a partir de 2016, lembro-me de Mauricinho. Ela age como paizão rico que faz de tudo para que o filhinho ganhe peladas. No caso, seus dois filhinhos: Corinthians e Flamengo. Timãoricinho e Flaboy.
Até 2011, as cotas de TV eram razoavelmente justas. A diferença entre os times do topo (R$ 25 milhões) e os de baixo (R$ 13 milhões) não chegava ao dobro. Em 2016, Corinthians e Flamengo receberão R$ 170 milhões, quase cinco vezes o que caberá aos menos favorecidos (R$ 35 milhões) e quase três vezes a cota de Cruzeiro, Atlético-MG, Inter, Grêmio, Fluminense e Botafogo (R$ 60 milhões). O São Paulo receberá R$ 60 milhões a menos que os dois.
Nada justifica isso. Os números que deveriam interessar à Globo, os de audiência, não são tão diferentes assim. Mas a emissora faz tudo para criar um abismo entre os clubes. A meta parece ser tornar o Brasileirão similar ao Espanhol, onde Barcelona e Real Madrid levam muito mais que os outros e dominam títulos.
Para isso, a emissora conta com a incompetência dos outros clubes, que aceitam o que é pago, sem entender que resultará em campeonatos cada vez menos equilibrados.
Não para aí: a Globo teria aceitado mencionar o nome da empresa que comprar “naming rights” da Arena Corinthians, mas chama o Allianz Parque de “Arena Palmeiras”.
E Corinthians e Flamengo, estão confortáveis com a situação? Parece que sim: segundo Ricardo Perrone, do UOL, o time paulista teria recebido da Globo garantia de que a diferença em relação a outros times será mantida em contratos vindouros. É o triunfo do capitalismo à brasileira, onde a competição não é incentivada, mas aniquilada. Como dizem, 7 a 1 foi pouco.