Bill Murray vira Roberto Carlos em especial de Natal de Sofia Coppola
CADA UM tem o especial do Roberto Carlos que lhe apetece.
No caso da Netflix, o mestre de cerimônias para a cantoria de fim de ano é o ator e comediante Bill Murray, astro do especial “A Very Murray Christmas”, trocadilho com seu nome e o voto “A very merry Christmas”, um Natal muito feliz. Nada mais agridoce para terminar um ano que deixará seu gosto por um longo tempo, talvez longo demais.
Murray desperta nos coraçõezinhos hipsters sensações nostálgicas e reconfortantes —mesmo quando não acerta em cheio. Afinal, o que é o Natal se não essa busca por nostalgia e conforto ano após ano, em caras conhecidas e velhas piadas, mesmo quando se erra a mão, na expectativa de que tudo acabe bem?
São reconfortantes, pois, o rosto de velho conhecido do comediante, seu ar de quem flutua no mundo desapegado de tudo e a memória de filmes como o infantil “Os Caça-Fantasmas” (1984), o natalino “Os Fantasmas Contra Atacam” (1988), o mágico “Feitiço do Tempo” (1993) e o incrivelmente terno e solitário “Encontros e Desencontros” (2003), além de tudo mais que ele fez com o diretor Wes Anderson nos últimos 15 anos. Tudo isso é Natal.
Neste especial de quase uma hora, porém, há pouco lugar para piadas ou textos elaborados.
Com um fiapo de argumento — Murray é Murray e acaba se divertindo com a equipe do hotel que o hospeda no Natal após seus convidados para um especial de fim de ano furarem—, o foco é musical.
O ator desfia o cancioneiro nata- lino em língua inglesa em meio a personagens excêntricos interpretados por um elenco que soma ídolos da comédia independente americana (Jason Schwartzman, Rashida Jones) a egressos do perene “Saturday Night Live” (Amy Poehler, Maya Rudolph, Chris Rock).
O que não é interpretado pelos atores, em muitos tons a mais de doçura, fica a cargo da banda alternativa Phoenix, da cantora/performer Miley Cyrus e do veterano frontman David Johansen (do New York Dolls, entre outros). Paul Shaffer, mais conhecido como líder da banda do programa de David Letterman, assina a direção musical e interpreta a si mesmo como coprotagonista.
Não é nada grandioso, mas a direção peculiar de Sofia Coppola, com quem Murray trabalhou em “Encontros e Desencontros”, seu papel mais marcante e comovente, garante o ritmo necessário. Natal não se trata de criatividade, afinal, mas de portos-seguros, e certamente o carisma de Murray é um deles. Assim como as vozes de Cyrus e Johansen; o piano de Shaffer; a ternura de Jones e Schwartzman.
“Noite Feliz” à parte, o melhor número cabe a Maya Rudolph, atriz que sempre voou abaixo do radar e merecia muito mais aclamação (que azar ser contemporânea de Amy Poehler e Tina Fey no SNL).
Sua voz encorpada comove e revigora em “Christmas (Baby, Please Come Home)”, composição de Jeff Barry, Ellie Greenwich e Phil Spector de 1963. A canção é pouco memorável, mas irremediavelmente melancólica e envolvente, como o especial. Como tudo nesta época. “A Very Murray Christmas”
Com números de Miley Cyrus e uma participação de George Clooney, ator pilota programa de final de ano da Netflix