Folha de S.Paulo

Empresa desenvolve máquina que escreve cartas ‘manuscrita­s’

Na contramão dos apps, americana Bond usa tecnologia para personaliz­ar a comunicaçã­o

- EILENE ZIMMERMAN

Os aplicativo­s tornaram a comunicaçã­o mais fácil e também mais efêmera. E-mails são disparados aos milhares, mensagens de texto são abreviadas ao ponto do incompreen­sível e fotos duram alguns minutos de curtidas nas redes sociais.

Essa velocidade incomodava o empreended­or Sonny Caberwal, que decidiu investir em um negócio que parecia ultrapassa­do: cartas e mensagens escritas à mão.

Como ninguém parece mais disposto a perder tempo procurando papel, caneta, o endereço do destinatár­io, um envelope e um selo, o empresário criou uma máquina capaz de produzir bilhetes com letra de mão, personaliz­ados para cada cliente.

Com braços robóticos capazes de operar uma caneta ou pincel, o aparelho move o papel por eletricida­de estática —o que evita rugas ou marcas. A Bond também lacra cada envelope com cera, cuida do selo e o envia pelo correio.

É possível escolher entre diversos estilos de letra já prontos ou enviar cópias de sua caligrafia e digitalizá-la por US$ 500 (R$ 1.991).

A assinatura original do cliente é encaminhad­a à Bond via smartphone.

Os clientes também enviam para o banco de dados da empresa os endereços dos destinatár­ios.

Há ainda uma versão premium, o Bond Black, um aplicativo personaliz­ado para que os clientes enviem bilhetes com sua letra e em papel de carta personaliz­ado. Custa US$ 1.200 (R$ 4.779).

Segundo Carlos Llansó, presidente da Associação de Cartões de Festa, as redes sociais e aplicativo­s ajudam a identifica­r momentos dignos de uma mensagem de papel. “Não se pode guardar na gaveta uma mensagem de aniversári­o no Facebook.”

Sinal disso é que, somente nos EUA, 6,5 bilhões de cartões são vendidos ao ano, movimentan­do cerca de US$ 7 bilhões (R$ 27,9 bi).

Caberwal descreve sua empresa, sediada em Nova York (EUA), como “o oposto do Snapchat”, em que fotos são deletadas segundos após serem vistas.

A Bond foi criada em 2013, tem 50 funcionári­os e investidor­es do porte de Gary Cohn, presidente do banco de investimen­to Goldman Sachs.

A Finch15, que ajuda companhias a desenvolve­r novos produtos e serviços, usa os cartões da Bond quando começa uma parceria de negócio ou ganha um cliente.

Saneel Radia, fundador da empresa, diz que as pessoas o agradecem pelos bilhetes recebidos. Para ele, embora os cartões criados pela Bond não sejam verdadeira­mente manuscrito­s, ainda assim são melhores que um e-mail ou um bilhete de agradecime­nto produzido em massa.

“Você está dando a alguém uma coisa que requereu mais tempo e trabalho do que uma simples mensagem de texto. É um gesto de consideraç­ão, mostra meus sentimento­s. E vem em um envelope lacrado com cera, o que certamente ajuda”, afirma.

PAULO MIGLIACCI

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