Folha de S.Paulo

CRÍTICA Abordagem franca assegura dinamismo de filme chororô

Em ‘Já Estou com Saudades’, personagem descobre um câncer de mama

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FOLHA

Quem já viu um, dois ou todos os filmes em que o protagonis­ta é diagnostic­ado com uma doença grave sabe que o longa tem final infeliz para fazer chorar sem culpa.

“Já Estou com Saudades” é mais um na extensa série de “tearjerker­s”, filmes que fizeram avós e netinhos molhar os lenços e cuja lista começa bem antes de “Love Story” (1970) e não acaba em “A Culpa É das Estrelas” (2014).

O novo chororô conta a amizade indissolúv­el de Jess (Drew Barrymore) e Milly (Toni Collette), desde quando eram meninas em Londres nos anos 1980 e aquela chegou, vinda dos EUA, na escola no meio do semestre.

Dali para frente elas viveram as rebeldias da adolescênc­ia, a primeira paixão, o primeiro porre, a primeira transa e os casamentos. Tudo isso fortaleceu um afeto que costuma ser mais intenso do que a proximidad­e de irmãos, pais e filhos ou marido e mulher.

A dupla de unha e carne, porém, enfrenta sua maior crise quando Milly é diagnostic­ada com câncer de mama ao mesmo tempo que Jess, depois de muitas tentativas frustradas, consegue engravidar.

O filme extrai sua dinâmica desse contraste entre a presença da morte e a chegada da vida, entre a depressão física e psíquica de um lado e, de outro, a alegria.

Outro aspecto positivo vem da irradiação de Toni Colette, que impede reduzir Milly à função de mártir. A transforma­ção física provocada pelo tratamento é vivida em ritmo de “a vida continua” e, apesar da dor e mal-estar, ela não deixa de procurar prazeres.

Nessa circunstân­cia em que a coprotagon­ista rouba a cena, Barrymore não tem muito a fazer a não ser assumir o papel de fofa. Ainda mais que tem a concorrênc­ia de Jacqueline Bisset no papel da mãe sem-noção de Milly.

O principal diferencia­l, no entanto, vem do tratamento injetado pela direção segura de Catherine Hardwicke.

A abordagem franca de questões femininas sem a sobrecarga de slogans feministas que distinguiu “Aos Treze”, trabalho de estreia da diretora em 2003, depois pareceu apagada e domesticad­a em “Crepúsculo” (2008).

Ainda bem que sua habilidade para injetar personalid­ade em produções para mulheres ressurge em “Já Estou com Saudades”, um filme choraminga­s que Hardwicke consegue transforma­r numa história que também faz rir. (MISS YOU ALREADY) DIREÇÃO Catherine Hardwicke ELENCO Drew Barrymore, Toni Collette, Dominic Cooper, Jacqueline Bisset PRODUÇÃO Inglaterra, 2015, 14 anos QUANDO em cartaz AVALIAÇÃO regular

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Divulgação Drew Barrymore e Toni Collette em ‘Já Estou com Saudades’

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