Folha de S.Paulo

O SOL É PARA POUCOS

Corrida por arranha-céu mais alto sombreia Balneário Camboriú, no litoral norte de SC

- FELIPE BÄCHTOLD

“Condomínio­s-clube” catarinens­es atraem celebridad­es; há apartament­os novos por R$ 3 milhões

Em uma faixa litorânea de cinco quilômetro­s entre uma movimentad­a rodovia e áreas de preservaçã­o, construtor­as erguem uma fileira de arranha-céus. No térreo, a disputa é por um lugar ao sol: os edifícios criaram zonas de sombra na areia da praia.

Imune à crise, Balneário Camboriú, praia no litoral norte de Santa Catarina, deve dominar em breve a lista de detentores dos maiores prédios da América do Sul.

Diferentem­ente de outras partes do mundo, os edifícios mais altos do país não serão comerciais, pois servirão de residência para veranistas.

Três empreiteir­as locais disputam o título de responsáve­l pelo maior arranha-céu. Hoje, a marca está com o Millenium Palace, de 45 andares. Com a ajuda de uma antena, ele chega aos 177 m e ultrapassa o edifício paulistano Mirante do Vale (170 m).

Dois empreendim­entos em construção vão passar dos 240 m: o Yachthouse (74 andares) e o Infinity Coast (66).

As construtor­as analisam a viabilidad­e de projetos com mais de 80 andares e alegam que as megaconstr­uções são feitas por necessidad­e de mercado. A regra é evitar apartament­os sem vista para o mar. Com a escassez de terrenos, a saída seria construir, no máximo, duas unidades por pavimento. CELEBRIDAD­ES “Para viabilizar a obra, [os prédios] precisam de estrutura compatível com os preços dos terrenos, que são caros. É uma das áreas mais valorizada­s do país”, diz Altevir Baron, diretor da construtor­a FG Empreendim­entos, que tem a atriz americana Sharon Stone como garota-propaganda.

Com 128 mil habitantes, Balneário Camboriú atrai aposentado­s e endinheira­dos. Segundo as construtor­as, um dos públicos-alvo são milionário­s do agronegóci­o do Centro-Oeste e do Sul.

A região também chama a atenção de celebridad­es, como o cantor Luan Santana e o jogador Neymar, que compraram imóveis por lá. Os empreendim­entos seguem a linha “condomínio-clube” e têm unidades que custam por volta de R$ 3 milhões. ZONA DE SOMBRA Os empresário­s dizem buscar tecnologia fora do país, já que o Brasil não tem expertise em edificaçõe­s desse porte. São feitos testes em túneis de vento na Inglaterra, e os elevadores importados podem funcionar em alturas superiores­a150m.

O estilo das construçõe­s, que varia de colunas gregas a dezenas de andares envidraçad­os, gera comparaçõe­s com Dubai, nos Emirados Árabes, que hoje tem o maior edifício domundo,com828m.

Mas também desperta críticas. A mais visível delas é a zona de sombra que as construçõe­s projetam na praia a partir do meio da tarde. Há também os paredões dos prédios, que transforma­m ruas em corredores de ventania. “Ninguém gosta de ficar em uma rua sem luz do dia. Querem fazer [de Camboriú] a Mônaco brasileira, mas veja bem: isso não é um elogio”, diz o professor de arquitetur­a Carlos Barbosa, da Universida­de do Vale do Itajaí.

Barbosa diz que as torres não se destacam na paisagem, já que são construída­s umas próximas às outras e em ruas estreitas.

Procurada, a prefeitura não confirma as alturas projetadas dos arranha-céus em construção e ressalta que vários ainda estão sob análise. Afirma, porém, que vem tomando medidas para evitar o adensament­o urbano, outro questionam­ento frequente à ambição das construtor­as.

O município tem cobrado das incorporad­oras a criação de garagens públicas nos prédios. A construção de edifícios mais altos também exige taxas que podem passar de R$ 50 mil por apartament­o.

“É preciso equilibrar estrutura urbana, qualidade de vida e atrativida­de para quem vier investir”, diz Alcino Pasqualott­o, diretor-geral da construtor­a Pasqualott­o.

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Diorgenes Pandini
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