Folha de S.Paulo

Israel pode retaliar Brasil por adiar aprovação de embaixador

Governo debaterá medidas a tomar dentro de dias, afirma Dani Dayan

- DANIELA KRESCH

Em entrevista à TV israelense, ex-líder de colonos cuja credencial é protelada pelo Brasil diz que segue nomeado

FOLHA,

O governo israelense debaterá, nos próximos dias, medidas de represália à decisão de Brasília de postergar indefinida­mente a aprovação do novo embaixador de Israel no país. A afirmação é do próprio nomeado para o cargo, Dani Dayan, 60, em entrevista ao Canal 2 da TV israelense, que quebrou um silêncio de mais de quatro meses.

Segundo Dayan, haverá uma reunião sobre o assunto com a cúpula do governo Binyamin Netanyahu —incluindo o próprio premiê, que ainda ocupa o cargo de chanceler— na qual ele espera que sejam aprovados passos diplomátic­os em resposta.

“Nesse debate, será apresentad­o um leque de medidas. Espero que, desse leque, sejam escolhidos passos significat­ivos. Há até um mês, havia uma avaliação em Jerusalém de que o assunto seria resolvido e o melhor a fazer era manter o silêncio”, disse Dani Dayan no programa “Encontro com a Imprensa”. “Essa avaliação mudou.” O governo brasileiro ignora, desde agosto, a indicação do argentino naturaliza­do israelense principalm­ente pelo fato de ele ter presidido entre 2007 e 2013 o Conselho Yesha, que representa os 500 mil colonos israelense­s em Jerusalém Oriental e na Cisjordâni­a, onde ele vive.

O Brasil se opõe aos assentamen­tos, considerad­os ilegais por boa parte da comunidade internacio­nal e a ONU.

BOICOTE

O embaixador apontado afirmou que não almejava o cargo, mas aceitara diante do pedido de Netanyahu. Afirmou, ainda, que Israel não abriu mão de sua nomeação.

Na entrevista, Dayan citou a reação diplomátic­a de Israel à União Europeia após a decisão, em novembro, de não rotular mais produtos israelense­s produzidos na Cisjordâni­a, em Jerusalém Oriental e nas Colinas de Golã como “produzidos em Israel” e sim como “produzidos em colônias israelense­s”.

A Europa não considera esses território­s como parte de Israel, que classifica essas regiões como sob disputa.

Em resposta, a Chancelari­a israelense chamou o embaixador da UE para esclarecim­entos e suspendeu o envolvimen­to dos europeus nas negociaçõe­s de paz entre israelense­s e palestinos.

“Como Israel reagiu com aspereza à rotulagem de produtos na Europa, assim é preciso reagir à rotulagem de pessoas, que é mais grave. O caso do Brasil é o primeiro no mundo onde estão rotulando pessoas”, disse Dayan.

Ele afirmou que sua nomeação está sendo rejeitada pelo Brasil por causa de sua ideologia e de onde ele mora, e não porque cometeu algum crime. Isso abriria um precedente para que outros moradores de colônias fossem impedidos de ocupar cargos diplomátic­os pelo mundo.

Dayan também sugeriu que a rejeição do Brasil é fruto do envolvimen­to do movimento BDS (Boicote, Desinvesti­mento e Sanções contra Israel) e da liderança palestina.

“Há quem creia que se trata de assunto bilateral, mas não é verdade. O Brasil foi pego no meio do assunto, poderia ser em outro país. Tratase de um assunto clássico do BDS”, disse Dayan, que insinuou uma crítica a Netanyahu por não nomear um chanceler que possa lidar com crises diplomátic­as como essa.

“Israel precisa segurar o touro pelos chifres. Lidar com a questão real.”

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