Camargo incentiva delação de funcionários
Empresa já confessou crimes e propõe garantias para que empregados façam o mesmo
Depois de acertar o pagamento de R$ 804 milhões em indenizações por seu envolvimento na Operação Lava Jato, a Camargo Corrêa está estimulando seus funcionários a confessar possíveis crimes como suborno de servidores públicos e de políticos, além de acertos com concorrentes para fraudar licitações.
Nos próximos 30 dias, funcionários e ex-empregados que colaborarem na identificação dos fatos investigados na Lava Jato terão a garantia de que não serão processados pela empresa nem demitidos por justa causa.
A Camargo se compromete a a pagar advogados para que seus profissionais negociem acordos de colaboração com o Ministério Público Federal e com o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).
A empresa afirmou em no- ta que os relatos serão feitos “diretamente a consultores especializados e independentes”, até o próximo dia 19.
O incentivo interno à “delação premiada” faz parte de um programa para aprimorar os controles da construtora e antecipar a possível descoberta de novas irregularidades antes que venham a ser apontadas por outras empresas, além de tentar melhorar a imagem.
Única das grandes empreiteiras a confessar oficialmente a participação nos esquemas de cartel e de propina da Petrobras e no setor elétrico, a Camargo Corrêa fechou acordos de leniência com o Ministério Público e com o Cade no ano passado.
A construtora tenta seguir os passos da multinacional alemã Siemens, que anos atrás foi apanhada em vários países fazendo cartel e pagando propina em troca de contratos públicos. Descobertos, os alemães confessaram seus crimes, pagaram indenizações bilionárias e prometeram se regenerar.
Em entrevista à Folha no final do ano passado, o presidente do conselho de administração e principal executivo do grupo Camargo Corrêa, Vitor Hallack disse acreditar que as descobertas da Lava Jato deveriam inibir práticas como suborno, cartel e superfaturamento de contratos.
“Se, com tudo isso, nada mudar, estamos fora do mercado”, afirmou. Procurada, a empresa não quis se pronunciar, mas enviou uma nota sobre o programa de delação.