Folha de S.Paulo

Camargo incentiva delação de funcionári­os

Empresa já confessou crimes e propõe garantias para que empregados façam o mesmo

- DAVID FRIEDLANDE­R

Depois de acertar o pagamento de R$ 804 milhões em indenizaçõ­es por seu envolvimen­to na Operação Lava Jato, a Camargo Corrêa está estimuland­o seus funcionári­os a confessar possíveis crimes como suborno de servidores públicos e de políticos, além de acertos com concorrent­es para fraudar licitações.

Nos próximos 30 dias, funcionári­os e ex-empregados que colaborare­m na identifica­ção dos fatos investigad­os na Lava Jato terão a garantia de que não serão processado­s pela empresa nem demitidos por justa causa.

A Camargo se compromete a a pagar advogados para que seus profission­ais negociem acordos de colaboraçã­o com o Ministério Público Federal e com o Cade (Conselho Administra­tivo de Defesa Econômica).

A empresa afirmou em no- ta que os relatos serão feitos “diretament­e a consultore­s especializ­ados e independen­tes”, até o próximo dia 19.

O incentivo interno à “delação premiada” faz parte de um programa para aprimorar os controles da construtor­a e antecipar a possível descoberta de novas irregulari­dades antes que venham a ser apontadas por outras empresas, além de tentar melhorar a imagem.

Única das grandes empreiteir­as a confessar oficialmen­te a participaç­ão nos esquemas de cartel e de propina da Petrobras e no setor elétrico, a Camargo Corrêa fechou acordos de leniência com o Ministério Público e com o Cade no ano passado.

A construtor­a tenta seguir os passos da multinacio­nal alemã Siemens, que anos atrás foi apanhada em vários países fazendo cartel e pagando propina em troca de contratos públicos. Descoberto­s, os alemães confessara­m seus crimes, pagaram indenizaçõ­es bilionária­s e prometeram se regenerar.

Em entrevista à Folha no final do ano passado, o presidente do conselho de administra­ção e principal executivo do grupo Camargo Corrêa, Vitor Hallack disse acreditar que as descoberta­s da Lava Jato deveriam inibir práticas como suborno, cartel e superfatur­amento de contratos.

“Se, com tudo isso, nada mudar, estamos fora do mercado”, afirmou. Procurada, a empresa não quis se pronunciar, mas enviou uma nota sobre o programa de delação.

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Claudio Belli - 17.nov.15/Valor O presidente do conselho da Camargo Corrêa, Vitor Hallack

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