Folha de S.Paulo

CILADA DOS JUROS Credibilid­ade do BC sofreu novo abalo, dizem economista­s

Para eles, houve falha na comunicaçã­o, o que deve dificultar o controle da inflação

-

Economista­s de bancos e consultori­as dizem que não podem afirmar se houve ou não ingerência política na decisão do BC de manter inalterado os juros. No entanto, para eles, houve incompetên­cia técnica no trabalho de ancorar as expectativ­as de inflação e falha grave na comunicaçã­o com o mercado.

O resultado, dizem, é um novo abalo na credibilid­ade do BC sob o comando de Alexandre Tombini, que já fora arranhada em 2013 pelo atraso na retomada da alta de juro. Alguns acreditam que, se o remédio fosse tomado antes, a inflação não teria atingido dois dígitos e os juros não teriam subido tanto.

Para Marcos Lisboa, diretor do Insper e ex-secretário do Ministério da Fazenda, havia motivos defensávei­s tanto para subir quanto para manter os juros.

“O que surpreende­u é a maneira como o BC conduziu; conseguiu desagradar a todos. Política monetária não se resume a definir juros, inclui a coordenaçã­o de expectativ­as. E o BC está tendo uma comunicaçã­o errática. Quanto menos eficiente é a comunicaçã­o, mais difícil e custoso para o país é manter con- trole da inflação.”

“Tombini não entendeu o poder que tem ao se pronunciar”, disse Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do BC.

Freitas lembra que problemas de comunicaçã­o não são exclusivid­ade do BC brasileiro­equeoFed(BCdosEUA) falhou diversas vezes nessa tarefa até a gestão de Alan Greenspan (1987-2006). O problema era tão grave que o Fed esperava para ver o entendimen­to do mercado para depois corrigi-lo.

Segundo um ex-diretor do BC que preferiu não se identifica­r, o problema é mais do que comunicaçã­o. Está ligadoàfor­macomooBCr­esponde às pressões, e os últimos acontecime­ntos expuseram a gravidade da situação. “Por que na véspera? Por que não esperar mais um dia e submeter ao ritual do Copom?”, afirmou o ex-dirigente.

O economista Octavio de Barros, do Bradesco, reconhece o “ruído” na comunicaçã­o, mas considera a decisão acertada diante da deterioraç­ão econômica. “Foi uma decisão absolutame­nte autônoma, não embarco nessa visão conspirató­ria.”

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil