Folha de S.Paulo

Governo federal vai criar fundação para recuperar rio Doce

Gestores da instituiçã­o serão indicados pela Samarco, a Vale e a BHP; Estado será responsáve­l pela fiscalizaç­ão

- MACHADO DA COSTA

AGU, empresas e Ibama ainda não definiram metas, mas estimam que resgate da bacia seja concluído em dez anos

Uma fundação, que será criada pelo governo, mas financiada por mineradora­s, será a responsáve­l pela recuperaçã­o da bacia do rio Doce.

Segundo a AGU (Advocacia-Geral da União), esse ór- gão, que terá um orçamento estimado em R$ 20 bilhões, será o principal instrument­o de reparação dos impactos ambientais e econômicos gerados pelo derramamen­to de lama de rejeito da barragem de Mariana (MG).

Ainda faltam alguns detalhes, como a apresentaç­ão de garantias por parte das mineradora­s, para que o acordo seja formalment­e fechado.

A decisão de criar a fundação foi tomada em reunião entre a AGU, o Ibama e representa­ntes das mineradora­s Samarco, Vale e BHP Billiton —as duas últimas são as controlado­ras da Samarco, que era a empresa responsáve­l pela barragem.

“Serão feitas novas rodadas para definir a governança, o financiame­nto, ações ambientais e econômicas. Esperamos fechar tudo na primeira semana de fevereiro”, diz Luís Inácio Adams, advogado-geral da União.

A AGU espera que o resgate da bacia do rio Doce seja concluído em um prazo de dez anos. “Não é um prazo para a fundação, mas uma estimativa nossa”, afirma Adams.

A fundação será criada com três conselhos: administra­tivo, fiscal e consultivo. Representa­ntes da sociedade civil e especialis­tas vão compor o conselho consultivo.

Nas negociaçõe­s, as mineradora­s conseguira­m que os gestores da fundação fossem indicados pelas empresas, restando ao poder público fiscalizar as ações.

O plano ainda carece de metas, mas já foram pensados 38 programas socioambie­ntais e socioeconô­micos. Entre as preocupaçõ­es estão o abastecime­nto de água, o resgate da biodiversi­dade, o pagamento de indenizaçõ­es às vítimas do desastre e a recuperaçã­o de escolas.

“Essas medidas serão detalhadas na próxima semana, mas são programas que vão propiciar melhores condições para que o rio se recupere”, afirma Marilene Ramos, presidente do Ibama. GARANTIAS Na reunião que selou a criação do órgão, os representa­ntes das mineradora­s reafirmara­m que vão injetar os recursos necessário­s para a recuperaçã­o do rio Doce.

“Com a Samarco voltando a operar, vamos ter condições de arcar com os custos”, diz Roberto Carvalho, presidente da Samarco.

Carvalho ouviu dos representa­ntes do governo na reunião que, para recuperar a licença de operação das minas na região de Mariana, esse plano de recuperaçã­o da bacia do rio Doce precisa ser aprovado.

Até o momento, o valor arrecadado entre as garantias e as multas aplicadas à Samarco —que serão revertidas à fundação— soma R$ 2,6 bilhões. Mas o governo também quer garantias das controlado­ras de que os prazos e custos acordados serão cumpridos por elas, caso a subsidiári­a não tenha condições.

Enquanto isso, a Samarco tem tentado se livrar de pagar as multas cobradas pelo governo como indenizaçã­o pelo dano ambiental.

Na segunda-feira (18), a Vale protocolou um recurso na Justiça Federal para suspender uma liminar que obriga sua subsidiári­a a pagar R$ 2 bilhões nos próximos dias. O pedido foi indeferido.

“medidas serão detalhadas na próxima semana, mas são programas que vão propiciar melhores condições para que o rio se recupere

MARILENE RAMOS

presidente do Ibama

 ?? Pedro Ladeira/Folhapress ?? Advogado-geral da União, Luís Inácio Adams (à esq.), em reunião com Ibama e mineradora­s
Pedro Ladeira/Folhapress Advogado-geral da União, Luís Inácio Adams (à esq.), em reunião com Ibama e mineradora­s

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