Ex-presidente diz à PF que filho não falou sobre repasse de lobista suspeito
No depoimento que prestou à Polícia Federal no último dia 6 em inquérito da Operação Zelotes, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que seu filho Luis Cláudio Lula da Silva não fez “qualquer contato” com ele antes de receber R$ 2,5 milhões de uma empresa do lobista Mauro Marcondes.
Os pagamentos ocorreram entre 2014 e 2015, na mesma época em que a firma do lobista recebeu R$ 16 milhões de duas empresas automotivas interessadas em medidas provisórias para o setor.
O ex-presidente disse à PF acreditar que seu filho procurou Marcondes para “obter patrocínio para o seu projeto na área de futebol americano” e que, “ao que sabe”, seu filho foi contratado para “estudos na área do esporte”.
Lula disse não ter ideia de quando o filho conheceu o lobista. O ex-presidente conheceu Marcondes em 1975, mas diz que só voltou a encontrálo em 2003, “em razão da necessidade do governo de conversar com a Anfavea (associação que representa montadoras)”, da qual Marcondes era um dos vices.
O petista foi confrontado pelos investigadores sobre documentos, e-mails e anotações que mencionam interesses de Marcondes no governo e que foram apreendidos durante a Zelotes.
Segundo a PF, mensagens indicam o objetivo de Marcondes de vender para a Força Aérea Brasileira caças suecos da Saab. Uma “minuta de carta” de Marcondes para Lula solicita apoio para a contratação da empresa e pede que Lula “levasse a demanda à presidente da República”.
O petista disse à PF que Marcondes “não o procurou para tratar da compra de aviões caça pelo governo”.
Lula foi indagado diretamente pela PF se os pagamentos feitos a Luis Cláudio eram “algum tipo de contraprestação por serviços prestados pelo senhor [Lula] à empresa Saab para que essa viesse a vencer a concorrência para a compra de caças para a FAB”. O governo acabou fechando negócio com os suecos. Lula considerou a hipótese “um absurdo”.
O petista também foi questionado sobre relatório encontrado com Marcondes que mencionava que a medida provisória “foi combinada entre o pessoal da Fiat, o presidente Lula e o governador Eduardo Campos”, morto em acidente aéreo em 2014.
Lula considerou que uma “combinação” nesse “sentido pejorativo”, conforme dito no papel, seria “‘coisa de bandido’ e que não ocorreu”. Acrescentou que se reuniu algumas vezes com Campos e Anfavea para tratar de benefícios da instalação da fábrica da Fiat em Pernambuco.
Lula foi dispensado pela Justiça de prestar mais um depoimento na segunda (25).