Folha de S.Paulo

Terra de gigantes

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Os mais velhos se lembrarão do Bamerindus, banco com sede em Curitiba, comprado pelo HSBC, que, há pouco, passou às mãos do Bradesco; ou do patrocinad­or de Ayrton Senna, o Nacional, adquirido pelo Unibanco, que depois se fundiu ao Itaú.

Os que chegam agora à vida adulta possivelme­nte tenham dificuldad­es para listar mais de uma dezena de casas bancárias brasileira­s. Segundo estudo recém-publicado, apenas cinco delas abarcam 78% do mercado nacional, consideran­do o crédito concedido, o patrimônio e demais ativos.

Itaú, Bradesco e Santander, mais os estatais Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, formam o grupo de grandes instituiçõ­es que sobreviver­am aos processos darwiniano­s que fizeram do Brasil um dos países de maior concentraç­ão bancária do mundo, como mostram os números reunidos pela consultori­a Roland Berger.

A partir dos anos 1990, as transforma­ções do sistema financeiro ganharam impulso com o fim da inflação de quatro dígitos que proporcion­ava lucros até aos mais ineficient­es; pertencem ao período as privatizaç­ões de bancos estaduais e as vendas do Bamerindus e do Nacional com o amparo do programa federal batizado Proer.

Mais recentemen­te, os reflexos da crise global que eclodiu no final da década passada frearam o ciclo de expansão do crédito, dando início a nova temporada de fusões e aquisições. Nos próximos anos, prevê o estudo da consultori­a, bancos médios fecharão as portas por incapacida­de de competir com os muito grandes.

Instituiçõ­es financeira­s de maior porte se beneficiam de ganhos de escala, ou seja, podem atender a uma clientela mais ampla com custo menor por cliente. Tal vantagem, associada a uma maior solidez geral do sistema bancário, angaria simpatias aos negócios que formam os gigantes do mercado.

Mas, quanto menor a competição, maiores as oportunida­des para a imposição de taxas e tarifas lesivas aos consumidor­es. Nesse quesito, a taxa de concentraç­ão brasileira supera em muito a de países como Estados Unidos e Alemanha, onde os cinco maiores bancos respondem por 47% e 32% do mercado, respectiva­mente.

A ponderação entre esses prós e contras deve guiar a regulação do setor pelo poder público. Infelizmen­te, persiste há mais de uma década um conflito de competênci­as entre o Banco Central, responsáve­l pela fiscalizaç­ão bancária, e o Cade, autarquia de defesa da concorrênc­ia. Urge, portanto, dirimir essa ambiguidad­e da legislação.

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