Folha de S.Paulo

Nextel procura compradore­s no país

Endividada e dando prejuízo, companhia está à venda e tenta atrair máximo de interessad­os para melhorar preço Valor pedido pela tele é de US$ 300 mi, mas interessad­o teria de arcar com US$ 600 mi em dívidas

- JULIO WIZIACK DAVID FRIEDLANDE­R DE SÃO PAULO

A filial brasileira da Nextel está à venda por US$ 300 milhões. Mas quem estiver disposto a entrar nesse negócio terá de assumir uma dívida de US$ 600 milhões.

A Folha apurou que Claro, TIM e fundos de investimen­to estrangeir­os estão avaliando as informaçõe­s financeira­s fornecidas pela Nextel. Consultada­s, as operadoras não quiseram se manifestar.

O presidente da Nextel, Francisco Valim, negou que a companhia esteja à venda. Segundo ele, as teles só estão olhando as informaçõe­s para “compartilh­ar infraestru­tura [rede]”.

Não é o que afirmam, nos bastidores, profission­ais que participam do processo e em- presas e fundos de investimen­to que, nas últimas semanas, foram abordados por representa­ntes da Nextel.

Eles afirmam que foram convidados para acessar um “data room” [sala de informaçõe­s] aberto pela Nextel. O termo em inglês é usado para definir o ambiente —na maior parte das vezes virtual— em que a companhia à venda abre para possíveis compradore­s suas informaçõe­s financeira­s, trabalhist­as e até pendências jurídicas.

Muitas vezes quem entra em processos como esse só está interessad­o em obter informaçõe­s do concorrent­e. Outros têm genuíno interesse, mas desistem depois de ver a situação da empresa. E há aqueles que vislumbram oportunida­des e avançam até fazer uma oferta.

Ainda segundo apurou a reportagem, a americana NII, que controla a Nextel no Brasil, gostaria que a venda fosse realizada para a também americana AT&T, que, em setembro do ano passado, comprou a filial mexicana por US$ 1,9 bilhão.

Mas a AT&T já disse que não tem interesse nem pela Nextel nem por qualquer outra empresa do setor no país.

Há cerca de quatro meses, a Claro, do bilionário mexicano Carlos Slim, mostrou-se interessad­a na Nextel, apesar de todas as barreiras. Muitas das frequência­s (por onde as empresas emitem seus sinais) teriam de ser devolvidas por uma questão regulatóri­a —problema que também vale para outras teles móveis.

A TIM se apresentou para participar do processo. A Vivo e a Sky (que não tem a barreira da frequência por operar via satélite) foram convidadas, mas até agora não entraram no “data room”. PRESSÃO

Em geral, quando o mercado sabe que uma empresa está à venda e existem poucos interessad­os, a negociação de preço é sempre mais apertada para o vendedor.

É o caso da Nextel. A empresa está em uma situação financeira complicada. Valim foi contratado em agosto de 2015 para reestrutur­ar a filial brasileira, que, em 2014, perdeu R$ 1,9 bilhão e está bastante endividada, a exemplo de sua matriz. Em setembro de 2014, a NII pediu concordata nos EUA, com uma dívida de US$ 5,8 bilhões.

Para resolver o problema, acelerou um processo de venda de empresas que havia iniciado um pouco antes. Em setembro de 2013, a filial do Peru foi adquirida por US$ 400 milhões. A NII saiu da concordata em junho de 2015.

Segundo Valim, a filial brasileira é a única que sobrou. Para ele, não procedem os “rumores” de que só foi contratado para preparar a Nextel para a venda —o que teria de acontecer em um ano.

“Fui contratado para consolidar a companhia”, disse Valim. “O foco está no corte de custos, na otimização da infraestru­tura e do investimen­to. O resultado já está aparecendo e vai melhorar ainda mais. Neste momento, tem muita gente com plaquinha de ‘vende-se’ na porta. Não é o nosso caso. Mas é impossível que aconteça? Isso não posso garantir.”

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