Folha de S.Paulo

Em crise, MAC deve buscar novo diretor

Mudança nas regras obriga a atual titular Kátia Canton a convocar eleições para o comando do museu da USP

- SILAS MARTÍ

Ex-vice de Hugo Segawa, que renunciou ao cargo, artista terá que disputar pleito se quiser seguir à frente da instituiçã­o

Quando a artista Kátia Canton assumiu a direção do Museu de Arte Contemporâ­nea da USP, preenchend­o o vácuo deixado por Hugo Segawa, que renunciou ao cargo em no-vembro do ano passado, parecia que acrise envolvendo a instituiçã­o estava perto do fim. Mas os próximos meses prometem ainda mais tumulto.

Uma mudança nas regras para a eleição de dirigentes de museus da universida­de determina que o MAC abra em breve um novo concurso para escolher seu diretor —Canton, que acreditava poder ficar no posto até 2018, quando terminaria o mandato de Segawa, terá de ceder seu lugar a um novo eleito ou mesmo se candidatar à vaga que já ocupa na condição de interina.

“É uma fase muito enroscada. Bem ou mal, quem está aqui no furacão sou eu”, diz Canton. “Vou terminar o mandato como diretora ou vice. Todos querem que eu fique.”

Nem todos. A saída de Segawa, que deixou a direção por causa de uma briga com o conselho da instituiçã­o, desencadeo­u uma disputa pelo comando deste que é um dos maiores museus da América Latina, com 11 mil obras, entre elas trabalhos de pintores como Picasso e Modigliani.

Na tentativa de ampliar o número de candidatos à direção, as regras da eleição foram revistas em dezembro passado. Em vez de o conselho propor uma lista de nomes ao reitor, que então tomaria uma decisão final, o novo modelo exige que candidatos a diretor e vice concorram em chapas e sejam escolhidos por um colégio eleitoral ampliado, com integrante­s de fora do museu.

Martin Grossmann, antigo vice-diretor do MAC, foi o principal articulado­r da mudança, sinalizand­o interesse em se candidatar ao posto — como está deixando o comando do Instituto de Estudos Avançados da USP em fevereiro, ele então estaria livre para concorrer à direção do museu.

Nos corredores do M AC, seu nome já circula entre os funcionári­os como possível futuro diretor, mas ele nega a intenção de comandar o museu. ATAQUE “Não sou candidato, mas tenho uma preocupaçã­o com o futuro do MAC”, diz Grossmann. “Tenho críticas ao modo como o museu acabou se sujeitando a uma operação endógena e que não faz jus à sua importânci­a. Não foi o diretor que deixou o museu nessa situação. Quem criou essa situação é um conselho muito fechado e provincian­o.”

Seu ataque, de certa forma, reverbera a impressão que se tem do MAC em parte do circuito artístico —uma instituiçã­o lenta, isolada da cena cultural da cidade e refém de uma burocracia asfixiante.

Mesmo quatro anos depois de se mudar para sua nova sede aolado do parque Ibirapuera, o museu não conseguiu se instalar de modo definitivo ali.

Há três dias, a reitoria da USP liberou R$ 400 mil para bancara mu dançada biblioteca­do M AC da Cidade Universitá­ria para o Ibira puera e a reforma do primeiro andar, reservado à administra­ção. Canton chamou a decisão de “super vitória” e sai upara co-memorar com os funcionári­os.

Mas, sem dinheiro para realizar exposições temporária­s, o MAC deve demorar para ganhar uma posição mais robusta no circuito. O plano mais ambicioso de Canton, por enquanto, é abrir até o fim do ano uma nova mostra do acervo permanente —será um circuito cronológic­o, com obras do século 20 ao 21 espalhadas por três andares do edifício.

“Isso é um lugar de conhecimen­to. Não vai haver nenhuma exposição ‘megablaste­r’ aqui”, diz Canton. “Ninguém queria ser diretor, não era a carreira que eu sonhei para mim. Achei que fosse ser terrível, mas agora o MAC vai sera referência que deve ser .”

Novas eleições, no entanto, podem mudar os planos. Quando a reitoria tornar oficial a exoneração do antigo diretor, algo que deve ocorrer até março, Canton terá um mês para convocar um novo concurso. “Para a reitoria é mais importante a equipe do MAC desenhar um projeto de com ovai atuar doque apessoa física que vai ocupara presidênci­a”, diz Vahan Agopyan, vice-reitor da USP.

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Marcus Leoni/Folhapress Futura reserva técnica do MAC-USP no subsolo do museu

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