ÁGUAS PASSADAS
Após período de muita chuva, que auxiliou o desenvolvimento da soja, produtores do Paraná agora se preocupam com eventual clima seco
Os produtores paranaenses de soja, um dos mais favorecidos pelo clima neste ano devido à boa ocorrência de chuvas, agora temem por uma eventual falta dela.
A região do norte do Estado está há dez dias sem chover, e boa parte das lavouras de soja está no período de enchimento de grãos, quando a planta necessita de chuva.
É cedo, no entanto, para estimar eventual perda de produtividade, segundo engenheiros-agrônomos da região. Mas a preocupação existe.
A região de Sertaneja, tradicional produtora de soja no norte do Paraná, foi uma das que conviveram com o excesso de chuva.
Sérgio Alves Moreira, consultor e engenheiro-agrônomo, diz que em seus 31 anos de atuação nas lavouras nunca viu incidência de chuva como a que ocorreu nesta safra.
“O clima ajuda bem, mas o excesso de chuva também prejudica”, diz ele. PREGUIÇA José Luiz Sossai, engenheiro-agrônomo da Cocamar, diz que, com o excesso de chuva, “a planta ficou preguiçosa”. Com umidade em abundância as raízes não aprofundaram na terra como em temporadas normais.
O problema agora é que, em uma eventual falta de chuva nesse período em que a planta necessita de água, as raízes são pequenas e sem capacidade de buscar a água em profundidade maior.
O ideal, diz ele, é que. para uma planta de 1,20 metro, a raiz tenha 60 cm. Neste ano, estão com apenas 20 cm.
As l avouras plantadas mais tarde e as que estão flo- rescendo necessitam de pelo menos 7 mm de água por dia.
Preocupações à parte, as estimativas ainda são boas para a região.
Sossai crê que a produtividade se mantenha perto da média tradicional, um pouco acima das 50 sacas por hectare. Já Moreira acredita que a chuva, mesmo em excesso, vai permitir uma superação da média. Se nenhum grande imprevisto ocorrer, acredita em produtividade próxima de 60 sacas por hectare.
Moreira compara o clima nos meses de janeiro deste ano e de 2015. No início de 2015, faltou chuva e o calor era intenso. Neste ano, há chuva e clima ameno.
Mas o produtor tem de ficar atento porque a chuva favorece a planta, mas também pode trazer mais doenças e proliferação de mato. FERRUGEM Sossai diz que os casos de incidência de ferrugem são maiores neste ano. Além disso, nas áreas onde a terra foi remexida, está havendo uma erosão superficial.
A incidência maior de chuva ocorreu quando a planta já estava em desenvolvimento. Se tivesse ocorrido no período anterior ao do plantio, a erosão seria maior.
Moreira diz que há perdas pontuais, principalmente nas beiras de rios e de represas, onde a água avançou sobre a soja. A perda, no entanto, não é significativa.
Alguns produtores da região estão preocupados, no entanto, com manchas amarelas que estão aparecendo no meio da soja ainda verde. A preocupação é com uma eventual antecipação da colheita dessa planta, sem que o restante da lavoura ainda esteja pronto. Se isso ocorrer, haverá perda de produtividade, acreditam eles.
As máquinas começam a entrar no campo para a colheita de soja no Paraná. Estimativas da AgRural, de Curitiba, indicam que 2,3% da área do Estado já tenha sido colhida. Com o tempo firme, a colheita começou a ganhar ritmo, segundo os analistas da agência.
A área já colhida no Brasil soma só 1,5%, devido a atraso no plantio e às chuvas em áreas produtoras. No mesmo período de 2015 eram 3,5%.
Na região de Sertaneja, a colheita toma corpo a partir da segunda quinzena de fevereiro e da primeira de março, segundo Sossai.
Por causa de problemas climáticos que afetam a safra, a AgRural reduziu a produção nacional de soja para 98,7 milhões de toneladas. O Paraná deverá produzir 55 sacas por hectare, mesmo volume da safra anterior, segundo estimativas da agência.