Crise interna pesa mais no Brasil que petróleo, diz S&P
Para agência, declínio das commodities tem peso menor na classificação do país
A queda nos preços de commodities e, particularmente, do petróleo afeta a classificação de países exportadores como o Brasil, mas a crise interna brasileiras é ainda mais grave, afirmou Joydeep Mukherji, diretor da agência de classificação de risco Standard & Poor’s.
“Os dois pontos são negativos e pressionam a classificação do Brasil para baixo, mas está se tornando claro que forças globais têm peso relativamente menor”, disse o analista, em entrevista nesta sexta-feira (22), na sede da agência, em Nova York.
Para ele, outros países da América Latina que sofrem também com desvalorização da moeda e são ainda mais dependentes da exportação de commodities estão em situação menos desconfortável do que o Brasil.
“Você não vê a mesma dificuldade na decisão de aumentar ou não os juros e os efeitos que isso causa.”
Na quarta-feira (20), o Banco Central surpreendeu o mercado ao manter a taxa básica de juros, Selic, em 14,25%.
Em setembro, a S&P rebaixou o Brasil a grau especula- tivo e mantém perspectiva negativa, o que significa possibilidade de novas quedas.
“Não posso fazer previsões, mas, se as pessoas que tomam decisões em Brasília ficarem mais coesas e tomarem decisões difíceis, será mais fácil [a recuperação], mas a política interfere no processo e o torna mais difícil.” PETROBRAS
Mukherji disse que a manutenção de preços administrados por anos prejudicou a Petrobras. “É uma política econômica do governo que serve a outros objetivos que não arrecadar dinheiro e investir.”
Para ele, a Operação Lava Jato “tem impacto profundo”, mas, mesmo que não houvesse investigação sobre escândalos de corrupção na companhia, ainda assim haveria “muitos problemas” no país.
O analista causou risos entre jornalistas estrangeiros ao citar o ex-ministro Pedro Malan, que afirmou que “no Brasil, até o passado é incerto”.
“Você acha que sabia o que aconteceu cinco anos atrás e, de repente, ai meu Deus, você descobre que não”, afirmou. “Os brasileiros estão mais acostumados a lidar com incertezas do que qualquer outro povo.”