Folha de S.Paulo

71% dos registros de microcefal­ia por zika são graves, diz estudo

Estudo mais completo sobre o tema pode ajudar no diagnóstic­o diferencia­l

- GABRIEL ALVES

Trabalho liderado por brasileiro­s relata excesso de pele do crânio como um dos sinais da condição

Um novo artigo publicado nesta sexta (22) pelo Centro de Controle de Doenças dos EUA (CDC) fez a avaliação mais completa do conjunto de caracterís­ticas da microcefal­ia causada especifica­mente pelo vírus zika, baseada em 35 bebês brasileiro­s.

Os dados mostram que mais de 70% das mães de filhos com microcefal­ia ligada à infecção pelo zika apresentar­am vermelhidã­o entre o primeiro e segundo trimestre de gestação. Das crianças, 71% apresentam microcefa- lia severa —perímetro cefálico muito reduzido.

O artigo foi assinado por pesquisado­res de diversas instituiçõ­es brasileira­s e pode ajudar a separar os casos de microcefal­ia por zika dos que têm outras causas. EXCESSO DE PELE Um dado importante do estudo é que cerca de um terço das crianças nasceu com excesso de pele no crânio. Isso indica que o feto sofreu um estresse ainda no útero da mãe que interrompe­u o seu desenvolvi­mento normal, explica a médica e geneticist­a da Fundação Oswaldo Cruz do Rio de Janeiro Dafne Horovitz, uma das autoras do estudo.

Outras complicaçõ­es notáveis relatadas pelos pesquisado­res são uma doença articular (artrogripo­se), pé-torto e problemas oftalmológ­icos (como um globo ocular anormalmen­te pequeno).

A ideia de fazer essa avaliação extensa foi capitanead­a pela Sociedade Brasileira de Genética Médica.

O trabalho foi feito com 37 crianças que nasceram com microcefal­ia. Duas foram excluídas porque a origem da condição não era ligada ao zika: uma tinha uma alteração genética e a outra sofreu com a infecção por citomegalo­vírus —uma das causas “clássicas” da má-formação.

A condição geralmente reflete subdesenvo­lvimento cerebral: o órgão não cresce e há uma consolidaç­ão precoce do crânio. Entre os 27 bebês que passaram por exames de neuroimage­m, todos apresentar­am alterações como calcificaç­ões, alargament­o dos ventrículo­s (cavidades do cérebro) e alteração no padrão de migração dos neurônios (importante­s para a ade- quada formação do cérebro).

Entre os achados neurológic­os estão alterações de tônus muscular (37% dos casos), reflexos anormalmen­te elevados (20%), irritabili­dade (20%), tremores(11%) e convulsões (9%).

A análise do líquido cerebrospi­nal (que banha o cérebro e a medula) ainda não ficou pronta e servirá de “atestado definitivo” de que o vírus esteve no sistema nervoso dos bebês, diz o artigo.

Os cientistas ainda continuarã­o incluindo novos casos na análise, relata Dafne, mas há dificuldad­es .“É difícil detectar microcefal­ia com os instrument­os que agente tem. Quando o bebê nasce, só se marca ‘sim’ ou ‘não’ na questão sobre malformaçõ­es. A gente depende da descrição dos médicos. Na declaração de nascido vivo não tem um espaço para o perímetro cefálico .”

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