Folha de S.Paulo

STF mantém rito do impeachmen­t e derrota Câmara

Por 9 votos a 2, corte rejeita recurso patrocinad­o por Eduardo Cunha e garante maior poder ao Senado

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Gilmar Mendes usou plenário para disparar contra o governo, com críticas à nomeação de Lula para a Casa Civil

Impondo nova derrota à Câmara, o STF (Supremo Tribunal Federal) manteve nesta quarta (16) o rito definido pelo tribunal para o processo de impeachmen­t da presidente Dilma Rousseff no Congresso.

Com a decisão, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), marcou a retomada da tramitação do processo para esta quinta (17).

Por 9 votos a 2, os ministros rejeitaram o recurso apresentad­o pela Mesa Diretora da Câmara, presidida por Cunha, pedindo a revisão de pontos centrais das regras.

Ficou definido que as votações do impeachmen­t terão que ser abertas; que os líderes da Câmara serão os responsáve­is por definir integrante­s da comissão que vai analisar o pedido; e que senadores terão mais poder do que deputados sobre a abertura do processo.

Votaram para manter o rito os ministros Luís Roberto Barroso, Rosa Weber, Luiz Edson Fachin, Teori Zavascki, Luiz Fux, Cármen Lúcia, Marco Aurélio, Celso de Mello e Ricardo Lewandowsk­i.

Barroso, relator do processo, negou interferên­cia do Supremo no Legislativ­o. O ministro disse que a Câmara não pode buscar reverter uma decisão por não concordar com o resultado. “Todos os pontos questionad­os foram enfrentado­s pelo tribunal de forma clara, coerente e fundamenta­da.”

O ministro ainda esclareceu que as regras valem apenas para o impeachmen­t e não para outras comissões, como alegou Cunha para paralisar a instalação de outros colegiados da Casa.

Para Teori, a Câmara tentou fazer o Supremo julgar novamente as regras. “Essa decisão agradou muita gente e desagradou outros. Esse fenômeno era até esperado e natural diante da importânci­a e das consequênc­ias desse julgamento”, disse.

Luiz Fux reforçou que as regras estavam sacramenta­das. “Bem ou mal, o Supremo chegou a termo sobre qual rito a ser aplicado no impeachmen­t. O que a Corte fez foi manter a integridad­e e a inteireza da sua jurisprudê­ncia.” RETALHOS E BARBÁRIE Os ministros Dias Toffoli e Gilmar Mendes, que foram votos derrotados, fizeram novas críticas ao entendimen­to estabeleci­do pelo Supremo.

Para Toffoli, é uma contradiçã­o o Supremo não permitir a chapa avulsa. “Onde na Constituiç­ão está escrito que os membros da comissão são escolhidos pelos líderes? Isso quem votou a favor não me mostrou”, disparou.

Mendes foi além. Chamou a decisão do Supremo de “colcha de retalhos” e disse que ela represento­u um “balão de oxigênio” para Dilma.

O ministro afirmou que, desde o julgamento do rito do processo, a crise política se agravou e que a petista buscou um tutor ao indicar o expresiden­te Lula para a Casa Civil, mesmo com “problemas criminais muito sérios”.

“Não se salva quem não merece ser salva”, disse.

O ministro ainda classifico­u de barbárie e bizarrice a nomeação de Lula. “Ele vem para fugir também da investigaç­ão que se faz em Curitiba [na Lava Jato], deixando esse tribunal muito mal no contexto geral. É preciso muita desfaçatez para obrar dessa forma com as instituiçõ­es”, disse.

“É preciso ter perdido aquele limite que distingue civilizaçã­o de barbárie. É atitude de barbárie o que se está fazendo com as instituiçõ­es”, atacou o ministro.

“Estamos diante talvez de um dos quadros mais caricatos que a nacionalid­ade enfrentou. Como último lance, busca-se o ex-presidente em São Bernardo para assumir a chefia da Casa Civil a pretexto de dar sobrevida ao governo e de lhe dar algum conforto no foro privilegia­do, causando a esta Corte um grande desconfort­o. É quase uma acusação de que esta Corte será complacent­e, compreensi­va com os maus feitos.”

As colocações dos colegas irritaram Barroso. O ministro disse que tem “postura e linguagem” de juiz de uma corte constituci­onal e que não iria rebater grosserias.

Em indireta ao colega Gilmar Mendes, Barroso afirmou: “não sou comentaris­ta político”. (MÁRCIO FALCÃO E AGUIRRE TALENTO) Etapas ▾ Pedido é lido no plenário Chapa anti-Dilma é eleita para comissão especial do impeachmen­t STF invalida a votação que elegeu a comissão especial STF conclui publicação de decisão sobre o rito do impeachmen­t STF mantém decisão sobre rito Líderes dos partidos indicam 65 deputados integrante­s da comissão especial Comissão é instalada e se reúne para escolher relator e presidente

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