A espera de PEDRO
Internado, garoto de 3 anos aguarda há 4 meses cirurgia para proteger seus ‘ossos de cristal’
DE SÃO PAULO
Em meio à crise financeira na Santa Casa de São Paulo e na saúde pública em geral, uma criança de três anos está internada há quase quatro meses à espera de uma cirurgia para proteger seus “ossos de cristal” contra fraturas.
Pedro Henrique Alves Leite precisa receber um implante de hastes de metal. Mas, mesmo com decisões judiciais que obrigam o poder público a arcar com os custos das próteses —cerca de R$ 30 mil—, ele ainda não passou por cirurgia para receber o material. A operação nem sequer tem uma data.
Enquanto isso, Pedro passa os dias na maca ao lado da mãe, Tereza Cristina Alves Rodrigues, 22, entediado e se queixando que quer voltar para a escola. Ela dorme em uma poltrona em meio a outros internados da ortopedia.
Com uma síndrome rara, a osteogênese imperfeita, que provoca fragilidade extrema nos ossos, ele precisa retirar com urgência a antiga haste que tem na perna esquerda, colocada quando ele tinha dois anos para auxiliar seu crescimento, e colocar um novo material, que será capaz de se estender conforme ele for ficando maior.
“É ele que me dá força para continuar aqui”, afirma a mãe do garoto. “Fica dizendo ‘não chora. Vão me operar logo, mamãe’. Estou quase enlouquecendo. Só quem passa para vê-lo, bem rápido, de madrugada, são médicos residentes. De vez em quando, dão uma dipirona pra ele.” NA CARNE Pelos exames de raio x realizados na criança, aos quais a reportagem teve acesso, é possível evidenciar que a antiga haste não mais acompanha o fêmur de Pedro e saiu do prumo, atingindo a carne na altura da cintura.
“Ele não sente dor, graças a Deus, mas tem febres repentinas a cada semana. A medicação que ele deveria tomar para o fortalecimento dos ossos também dizem que está em falta. Ele não toma há meses”, conta a mãe.
Tereza se mudou com o marido Daniel Rodrigues Leite, 26, ajudante de pedreiro, de Bom Conselho, no interior de Pernambuco, para Santo André, na Grande São Paulo, apenas para que o filho tivesse acesso a tratamento médico especializado.
“Ele nasceu com umas 30 fraturas. Foi muito dramático no começo. Só depois que começou a receber assistência, aqui em São Paulo, é que as coisas melhoraram. A perna esquerda ele já quebrou sete vezes. Para evitar que te- nha problemas também na direita, disseram que vão colocar prótese nela também.”
Pedro não recebe alta porque corre risco de infecção e porque há uma decisão judi- cial para que ele receba atendimento adequado.
“Já pedi para mudarem de hospital, para aceitarem que se faça uma vaquinha para comprar as próteses, mas não me dão nenhuma resposta. Também não tenho condições de pagar particular.”
Na maior parte do tempo, o garoto fica dentro de uma ala do setor de ortopedia do hospital, junto com outras crianças e suas mães.
“De vez em quando, permitem que eu leve ele até o pátio para tomar um solzinho.” CRISE A Santa Casa de São Paulo passa pela pior crise financeira de sua história e tenta administrar uma dívida de cerca de R$ 800 milhões.
Uma série de medidas de saneamento estão em curso, como renegociação de valores, mudanças de gestão e remanejamento de pessoal.
O Ministério Público investiga suspeitas de irregularidades do ex-provedor do hospital Kalil Rocha Abdalla na administração de imóveis da instituição e em contratos de prestação de serviços.
Ele nega ter praticado qualquer irregularidade em sua gestão e afirma que apoia as investigações. TEREZA ALVES RODRIGUES, 22 mãe de Pedro
dão uma dipirona.