GOVERNO SITIADO Câmara instala a comissão que analisará impeachment
Governo sai em desvantagem na lista de 65 deputados eleitos para a missão
Fernando Francischini (PR)
Relator é aliado de Cunha, que incluiu no processo acusações de envolvimento de Dilma no esquema do petrolão
A Câmara dos Deputados retomou nesta quinta (17) a tramitação do impeachment contra a presidente Dilma Rousseff e elevou a pressão sobre o Palácio do Planalto.
Embora a lista dos 65 deputados eleitos para a comissão do impeachment tenha, no papel, maioria governista, na prática já há ligeira vantagem para o grupo que defende a destituição de Dilma, com tendência de crescimento nos próximos dias.
Diante disso, o governo foi obrigado a aceitar que o deputado Jovair Arantes (PTBGO), um dos principais aliados do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDBRJ), fosse indicado como relator do pedido.
Por fim, Cunha acrescentou ao caso a delação em que o ex-líder do governo no Senado Delcídio do Amaral (MS) acusa Dilma e Lula de participação efetiva no esquema de corrupção da Petrobras.
O pedido de impeachment original, protocolado pelos advogados Helio Bicudo (expetista), Miguel Reale Jr. (exministro do governo FHC) e Janaína Paschoal, tinha como principal argumento as chamadas “pedaladas” fiscais feitas para fechar as contas públicas de 2014. COMISSÃO A comissão do impeachment foi aprovada em uma sessão tumultuada do plenário da Câmara, por 433 votos contra 1 —24 partidos indicaram deputados, na proporção do tamanho das bancadas.
Dos 65 integrantes, 33 são da oposição ou dissidentes declarados, com inclinação pró-impeachment (veja quadro ao lado). O bloco de apoio a Dilma tem 25 cadeiras. Sete estariam indecisos, entre eles os 4 deputados do PR, partido que tem o Ministério dos Transportes. O PP também ameaçava desembarcar.
No até agora aliado PMDB, 3 das 8 cadeiras são de deputados pró-impeachment.
A presidência da comissão ficará com Rogério Rosso (DF), líder da bancada do PSD, o partido no ministro Gilberto Kassab.
Apesar da resistência ao nome de Arantes para rela- tor, o governo avalia que ele é um parlamentar experiente, resistente à pressões de ambos os lados. Já Rosso, que tem bom trânsito com todos os partidos e também com Cunha, é considerado mais suscetível à pressão das ruas.
O Palácio do Planalto recebeu a citação da Câmara na tarde desta quinta (veja os próximos passos do processo no quadro ao lado). A previsão é que o relatório de Arantes seja votado entre 15 de abril e 3 de maio.
Entre os indicados para a comissão estão Paulo Maluf (PP), recentemente condenado a três anos de prisão pela Justiça francesa sob a acusação de chefiar uma quadrilha de lavagem de dinheiro desviado de obras públicas no Brasil, e deputados investigados em outros casos.
José Mentor (PT-SP), Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), Jerô- nimo Goergen (PP-RS) e Roberto Britto (PP-BA) são investigados na Lava Jato. Paulinho da Força (SD-SP) foi citado e não há informação se foi aberta uma investigação contra ele. Todos negam envolvimento com o caso.
Outros oito deputados respondem a inquérito ou ação no Supremo.
URIBE,
FALCÃO GUSTAVO