Novo depoimento liga Odebrecht a despesas de obra
DE SÃO PAULO
Um ex-assessor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou à força-tarefa da Operação Lava Jato que recebeu dinheiro do engenheiro da Odebrecht Frederico Barbosa para pagar despesas das obras realizadas no fim de 2010 no sítio em Atibaia (SP) que é frequentado por Lula e seus familiares.
Os trabalhos na propriedade rural foram iniciados a partir de outubro daquele ano, quando o petista ainda ocupava a Presidência.
O testemunho reforça indícios de que a Odebrecht bancou grande parte das obras no sítio usado pela família Lula.
O depoimento foi dado à força-tarefa por Rogério Aurélio Pimentel, que em 2010 era assessor pessoal do expresidente. A afirmação de Pimentel contradiz o testemunho do engenheiro da empreiteira citado por ele.
Frederico Barbosa disse aos procuradores da Lava Jato que Pimentel era quem “disponibilizava recursos para pagar despesas imediatas com prestadores de serviço”.
Segundo o então assessor de Lula, por duas vezes ele recebeu envelopes lacrados com dinheiro das mãos de Barbosa e levou-os para um depósito de materiais de construção a fim de pagar por produtos adquiridos para o sítio.
Esse testemunho confirma fato apontado pela ex-dona de uma loja de material de construção entrevistada pela Folha em janeiro.
Patrícia Fabiana Melo Nunes, antiga dona do Depósito Dias, que forneceu produtos para a obra, disse à reportagem que recebeu pagamentos de um homem que fazia as entregas de dinheiro por indicação de Barbosa.
Ela afirmou que, só de materiais no estabelecimento, a obra fez compras de mais de R$ 500 mil (R$ 700 mil, em valores atualizados).
Barbosa ficou conhecido após comandar as obras do Itaquerão, o estádio do Corinthians, em São Paulo.
Em seu depoimento, o exassessor também contraria o relato de Carlos Rodrigues do Prado, o dono da pequena empreiteira Rodrigues do Prado, que atuou na obra.
Prado afirmou à Folha que recebeu de Pimentel R$ 167 mil (R$ 230 mil, em valores atualizados) em dinheiro vivo pelo pagamento dos serviços realizados no sítio.
O ex-assessor, porém, disse não se recordar dessa prestação de serviços.
Metade da mão de obra usada pela pequena construtora foi fornecida pela Odebrecht, segundo Barbosa e apuração da Folha. A Odebrecht cedeu o engenheiro e mais 15 funcionários para os trabalhos no imóvel.
O ex-presidente pode ser alvo de ação de improbidade administrativa caso fique comprovado que empreiteiras envolvidas no esquema de corrupção na Petrobras pagaram pelas obras do sítio em Atibaia quando Lula ainda era presidente, para beneficiá-lo ilegalmente.
Uma das punições desse tipo de ação judicial é suspensão dos direitos políticos por até dez anos, o que torna os condenados inelegíveis.