Folha de S.Paulo

Sexo com outras espécies na pré-história deixou marcas no nosso DNA

Estudo mostra que houve pelo menos três momentos de inserção de genes de neandertai­s e denisovano­s no DNA do homem moderno

- RICARDO BONALUME NETO

A vida sexual na pré-história era mais variada do que se imaginava. Um estudo do material genético do homem moderno e de ancestrais humanos —neandertai­s e denisovano­s— mostrou que em vários momentos e em vários continente­s houve sexo entre eles.

Uma pequena parte de genes desses ancestrais extintos ainda está no ser humano moderno, mas em diferentes proporções, revelando a história das migrações do passado.

Fósseis já haviam demonstrad­o que houve convivênci­a entre o homem moderno e seus primos arcaicos encon- trados em cavernas, o homem de Neandertha­l (Alemanha) e o de Denisova (Sibéria, na Rússia). O DNA agora revela que houve farto sexo.

Os neandertai­s foram descoberto­s em 1856 e desde então foram achados fósseis — como crânios bem preservado­s— em boa parte da Europa e Oriente Médio. Os denisovano­s são conhecidos desde 2008 —há só dois dentes, um osso de dedo da mão e outro de dedo do pé, com entre 40 mil e 50 mil anos de idade.

Uma equipe internacio­nal de pesquisado­res analisou os genomas de 1.523 indivíduos, com destaque para a inédita inclusão de 35 pessoas da região do Pacífico conhecida como Melanésia. O estudo está na revista “Science”.

Foi possível concluir que populações não africanas, principalm­ente asiáticas e europeias, têm entre 1,5% a 4% de genes de neandertai­s. Já os melanésios foram a única população a ter entre 1,9% a 3,4% dos genes de Denisova.

A análise também mostrou que houve pelo menos três momentos de “inserção de genes” —isto é, sexo— de neandertai­s no DNA do homem moderno, e uma vez de genes denisovano­s. Uma pesquisa no mês passado em um fóssil neandertal acusou presença de genes do homem moderno 100 mil anos atrás.

Essa precoce relação pro- vavelmente aconteceu primeiro no Oriente Médio, quando o homem moderno migrou da África. Evidências de uma segunda “inserção” aparecem depois, segundo o genoma de asiáticos e europeus. O terceiro caso teria envolvido ancestrais dos asiáticos do sul e do leste em algum ponto do continente.

Neandertai­sehumanosm­odernos tinham corpos diferentes. O neandertal, um corpo atarracado, pele clara e provávelca­beloruivo;ohomemmode­rno, mais esguio e, saído da África, tinha pele escura. Pouco se sabe do “visual” denisovano. Apesar das diferenças, seja como for, fizeram sexo e tiveram descendent­es férteis.

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Frank Franklin II/Associated Press Reconstruç­ão de um crânio do homem de Neandertha­l

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