Reações em série ampliam isolamento de Dilma e Lula
Na posse de Lula, suspensa na Justiça, presidente diz que uso de métodos escusos pode levar a golpe
Reações de ministros do Supremo Tribunal Federal, entidades de classe e empresariais, partidos da base governista, manifestantes e procuradores da Lava Jato ampliaram o isolamento da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Lula, indicado para a Casa Civil.
As manifestações ocorrem um dia após revelação de gravações telefônicas com críticas do ex-presidente ao Congresso e ao Supremo. Os grampos, autorizados e divulgados pelo juiz Sergio Moro, sugerem que a nomeação de Lula objetivou embaraçar a aplicação da lei penal.
O ministro há mais tempo no STF, Celso de Mello, qualificou a fala de Lula de “reação torpe, típica de mentes autocráticas e arrogantes”. O procurador-geral, Rodrigo Janot, disse que ser ministro “não blinda ninguém”.
Em decisões distintas, juízes do Distrito Federal e do Rio suspenderam a posse de Lula em caráter provisório. A primeira já foi derrubada.
Federações industriais de cinco Estados pediram a saída de Dilma. Houve protestos em 14 capitais. Na avenida Paulista, manifestantes montaram barracas em vigília pela queda da presidente.
Deputados criaram comissão para discutir o impeachment, com tendência de alta do grupo anti-Dilma. O PMDB e o PP anteciparam debate para deixar a base.
Na posse de Lula, Dilma afirmou que o uso de “métodos escusos” e “práticas criticáveis” pode resultar em golpe. Em carta aberta, o ex-presidente disse que seus direitos foram subtraídos.
O cerco político a Dilma Rousseff recrudesceu nesta quinta (17), justamente no momento em que a presidente apostou na agressividade para defender seu mandato, além de vociferar contra o juiz Sergio Moro.
Sob proteção policial em um Palácio do Planalto cercado de manifestantes, Dilma deu posse ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Casa Civil, apenas para ver a medida suspensa poucos minutos depois por um juiz federal. O governo recorreu, e o caso vai parar no Supremo Tribunal Federal.
Do outro lado da praça dos Três Poderes, o decano do Supremo, Celso de Mello, desferiu um duro ataque contra Lula, flagrado em grampos da Lava Jato chamando o tribunal “acovardado”. Mello chamou a acusação de típica de “mentes autocráticas e arrogantes”. Os procuradores federais da força-tarefa da operação em Curitiba também reagiram, dizendo haver uma “guerra desleal” contra a investigação.
Moro, pelo segundo dia consecutivo, tornou públicos diálogos e documentos potencialmente comprometedores para o ex-presidente. Entre eles, um contrato de gaveta de transferência para o petista de sítio em Atibaia (SP) reformado por empreiteiras.
Nas ruas, a reação continuou. Na avenida Paulista, um grupo fechou a via durante o dia todo. Outras capitais, como Rio, também tiveram atos. Em Brasília, manifestantes pró-impeachment foram separados à força pela PM de um grupo de militantes do PT.
Na frente política, o dia foi marcado pela instalação da comissão que irá discutir o impeachment de Dilma. Comandado por dois aliados de Eduardo Cunha, presidente da Câmara e adversário do Planalto, o grupo de 65 deputados deverá ter os trabalhos acelerados.
O PMDB de Cunha, por sua vez, ameaça deixar Dilma. O vice-presidente Michel Temer não compareceu à posse de Lula e marcou para o fim do mês reunião do partido para discutir o rompimento.
O mundo econômico reagiu. Os mercados subiram e o dólar caiu, reflexo da percepção de que a gestão petista está no fim. No registro mais real, caminhoneiros do agronegócio no Centro-Oeste fizeram bloqueios, e filas foram registradas em estradas federais.