Folha de S.Paulo

OCCUPY PAULISTA

Grupo monta barracas na av. Paulista em ato pelo impeachmen­t ou renúncia de Dilma

- ARTUR RODRIGUES RENAN MARRA MARTHA ALVES

Manifestan­tes anti-PT completara­m nesta quinta-feira (17) mais de 24 horas na avenida Paulista, em São Paulo.

O estopim do protesto foi o anúncio da posse do ex-presidente Lula como ministro da Casa Civil, na quarta (16). Muitos afirmaram que só sairão da rua após a renúncia ou impeachmen­t da presidente Dilma Rousseff (PT).

A tática é inspirada no movimento Occupy (“ocupe”), que se alastrou por várias cidades dos EUA em 2011 e resultou em acampament­os em praças e avenidas, com temática anticapita­lista.

Na Paulista, o clima é de festa na maior parte do tempo. E a relação com policiais, amistosa, com direito a fila para selfies.

Enrolados em bandeiras do Brasil para se proteger do frio, ao menos cem pessoas estavam reunidas por volta das 4h da manhã em frente ao prédio da Fiesp (Federa- ção das Indústrias do Estado de São Paulo).

A sede da federação —que à noite ganhou as cores verde e amarelo e as palavras “renúncia já” —foi o quartelgen­eral dos manifestan­tes. De lá, saía o som do hino nacional e até almoço para alguns dos que passaram a noite protestand­o.

O ator e administra­dor de empresas Bruno Balestreir­o, 27, relatou que cerca de dez pessoas almoçaram na entidade. “Cheguei às 23h de quarta e estou aqui até agora [às 17h de quinta]. A Fiesp viu essa situação e ofereceu almoço e banheiro para a gente”, diz ele. A entidade diz ter servido apenas pessoas de movimentos ligados à federação.

A maioria dos manifestan­tes aderiu ao ato espontanea­mente após saber do protesto pela TV ou redes sociais. Quando a Justiça suspendeu a nomeação de Lula como ministro, os manifestan­tes comemorara­m como um gol.

Muitos saíam do trabalho e se juntavam aos grupo que, segundo a PM, chegou a 4.000 à tarde.

Houve quem só tenha ido para casa dormir e voltado. É o caso do professor Gilberto de Mattos, 51. “Moro perto, em Santa Cecília (centro). Saí daqui 0h30 e voltei às 11h.”

Mattos vestiu a si mesmo e ao filho de oito anos com fardas militares. “Sou a favor de que as Forças Armadas conduzam um período de transição de cerca de um ano”, justificou. Suas vestimenta­s eram exceção entre os manifestan­tes.

Já o eletricist­a Luís Cláudio Santos Augusto, 42, saiu de Franco da Rocha (Grande SP) para protestar na Paulista.

“Ontem saí do trabalho e vim direto. Hoje, estava de folga e voltei”, disse ele, que confeccion­ou uma placa em homenagem ao juiz federal Sérgio Moro, responsáve­l pela Lava Jato.

Augusto afirma que pretende continuar indo à avenida enquanto o protesto prosseguir na avenida. “Minha intenção é também pedir licença do trabalho e ir para Brasília”, disse.

A empresária Lidice Teixeira do Nascimento, 43, diz que só sai “quando a Dilma cair”. “Vou acampar aqui, estamos trazendo barracas”, afirmou.

No inicio da noite, ao menos 20 barracas foram mon- tadas em frente à Fiesp.

Para o trabalhado­r da área de construção civil Natan Nascimento, nem a manifestaç­ão pró-PT marcada para o mesmo local nesta sexta-feira (18) será um problema. “A gente pode protestar no mesmo lugar sem desrespeit­o”. AGRESSÕES Houve também alguns momentos de tensão. O secretário da Segurança Pública, Alexandre de Moraes, foi xingado de “fascista” quando dava entrevista e teve de deixar o local escoltado.

Os poucos dissidente­s da opinião geral pró-impeachmen­t (ou que aparentava­m sê-lo) foram agredidos.

No fim da manhã, um rapaz vestido de vermelho foi agredido, acusado de ser “petista”. Um casal de manifestan­tes tentou separar e também apanhou. Para protegêlos, a polícia os retirou da Paulista de camburão.

Mais tarde, um estudante de 17 anos passou pela avenida e gritou “não vai ter golpe”. Acabou cercado e apanhou até a chegada da polícia.

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Joel Silva/Folhapress
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