Folha de S.Paulo

Desastre de receita

Dados relativos a fevereiro mostram que arrecadaçã­o federal cai em ritmo alarmante, antes mesmo de crise política se agravar

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A arrecadaçã­o de impostos do governo federal cai em velocidade cada vez maior. A Receita Federal divulgou nesta sexta-feira (18) dados que indicam uma alarmante perda de recursos.

Nesse ritmo, sobrevirá uma escassez que levará a presente administra­ção à beira da paralisia ou a deficit ainda mais assustador­es, solapando o crédito do governo.

Quem quer que esteja no poder ao final do processo de impeachmen­t deverá apresentar, de forma urgente, um plano de emergência.

A arrecadaçã­o baixava ao ritmo de 2,5% ao ano em janeiro de 2015, quando começava o segundo mandato de Dilma Rousseff (PT). A presidente fazia promessas de austeridad­e nos gastos, desmentind­o o que dissera na campanha, para choque de seus eleitores.

Em fevereiro deste ano, a perda de receita chegou a 11,5% em comparação com o mesmo mês de 2015, ou 6,6% no acumulado de 12 meses (todos os indicadore­s são apresentad­os em termos reais, já descontada a inflação).

Esse imenso talho na arrecadaçã­o de impostos, contribuiç­ões e pagamentos à Previdênci­a representa cerca de R$ 90 bilhões. Para ter uma ideia, o montante equivale a quase duas vezes toda a despesa federal em investimen­tos. Em ou- tra comparação, representa mais de três vezes o orçamento anual do programa Bolsa Família.

Em palestra nesta sexta, em São Paulo, o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, afirmou que tem atuadocomu­rgência,mastambém com serenidade. Disse ainda que espera a aprovação da CPMF pelo Congresso e que discute com o Banco Central medidas de relaxament­o do crédito.

Segundo Barbosa, são iniciativa­s capazes de minorar a penúria dos cofres públicos e evitar redução ainda maior da atividade econômica. Nesse ínterim, seriam apresentad­as reformas de longo prazo.

Serenidade, porém, é atributo escasso no país, e muito mais no governo Dilma —que ademais não conta com competênci­a ou recursos políticos necessário­s para encaminhar um plano mínimo de contenção de desastre maior.

Mesmo o plano modesto de reformas que a equipe econômica intenta apresentar tornou-se rarefeito, dada a fragilidad­e do mandato presidenci­al.

Note-se que tal recuo ocorreu antes de a crise se tornar frenética. No momento, lamentavel­mente, não há como esperar nem ao menos a aprovação de remendos na economia, dado o ambiente político.

Os responsáve­is pela condução do país devem prestar muita atenção ao cenário de terra arrasada que terão de administra­r.

É preciso elaborar desde já um um programa de ação imediata a ser implementa­do assim que o tumulto diminuir.

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