Folha de S.Paulo

Corrigir a tempo

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São no mínimo preocupant­es os dados compilados no maior e mais abrangente estudo já realizado no Brasil sobre fatores de risco cardiovasc­ular em adolescent­es.

Batizada de Erica (Estudo dos Riscos Cardiovasc­ulares em Adolescent­es), a iniciativa do Ministério da Saúde avaliou cerca de 75 mil estudantes de 12 a 17 anos de escolas públicas e privadas em municípios com mais de 100 mil habitantes.

Essa radiografi­a da saúde e dos hábitos adolescent­es revela que expressivo­s contingent­es de jovens estão com excesso de peso, são sedentário­s, se alimentam mal e sofrem com hipertensã­o e colesterol.

São condições que, se não forem corrigidas a tempo, resultarão em adultos mais propensos a desenvolve­r doenças coronárias e outras complicaçõ­es, como diabetes.

Descobriu-se, por exemplo, que quase metade dos jovens de cidades médias e grandes do país apresenta baixos níveis do chamado colesterol bom (HDL), responsáve­l por remover a gordura das paredes das artérias e levá-la para o fígado.

Já o colesterol total encontra-se acima do recomendáv­el em 20% dos adolescent­es. Ainda que a genética tenha participaç­ão nesses resultados, suas causas são sobretudo o excesso de peso e a falta de atividades físicas.

O Erica, com efeito, mostra que 25% dos jovens apresentam sobrepeso, enquanto 8,5% são obesos; quase 55% não seguem a recomendaç­ão de praticar ao menos 300 minutos por semana de atividades físicas, índice que entre as meninas atinge alarmantes 70%.

Completa o quadro a constataçã­o de um alto consumo de bebidas açucaradas e alimentos ultraproce­ssados por parte dos adolescent­es, o que resulta em dietas pobres —mais de 50% têm carência de cálcio, fósforo e vitaminas E e A— e com excesso de sódio, observado em cerca de 80%.

Por sua representa­tividade nacional, o estudo constitui peça fundamenta­l para orientar políticas públicas direcionad­as à população jovem, cujos problemas podem ser corrigidos em geral com mudanças na alimentaçã­o e no estilo de vida.

As autoridade­s, portanto, deveriam atuar de imediato nessas duas frentes —por exemplo, provendo mais acesso a informaçõe­s sobre dieta saudável. Ademais, é preciso estimular a atividade física não apenas com esclarecim­entos, mas com a oferta de equipament­os, serviços e condições adequadas para a prática esportiva.

É uma forma barata de prevenir doenças que, no futuro, cobrarão um preço alto do sistema de saúde.

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