Folha de S.Paulo

Justiça privilegia­da

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SÃO PAULO - No momento em que a maioria dos brasileiro­s celebra o juiz federal Sergio Moro como um salvador da pátria, mas muitos o pintam como um vilão, um olhar desapaixon­ado sobre a atuação do magistrado permite ver um sistema de trabalho que deveria ser um dos legados da Operação Lava Jato.

Moro é um dos poucos juízes do Brasil que atuam nas varas federais especializ­adas em crimes financeiro­s, criadas em 2003 para cuidar desse tipo de delito, que em geral é mais complexo e envolve corrupção.

A ideia de deixar parte dos magistrado­s da Justiça Federal concentrad­a nos crimes de “colarinho branco” só emplacou após o caso Banestado, que mostrou remessas de bilhões de dólares ao exterior, parte desse dinheiro desviado dos cofres públicos.

Outra situação vivem os juízes criminais das Justiças estaduais, que trabalham como “clínicos gerais” e não encontram amparo estrutural para se dedicarem às causas específica­s ligadas à corrupção.

A título de exemplo, a ação penal do caso da cooperativ­a habitacion­al Bancoop, no qual dirigentes da entidade foram acusados de crimes financeiro­s e desvios em favor do PT, começou na Justiça Estadual paulista em 2010 e só agora está chegando à sua fase final na primeira instância.

Já a Lava Jato, em trâmite perante uma das varas federais especializ­adas em Curitiba, completou dois anos nesta semana, com 17 ações penais concluídas no primeiro grau.

No dia 14, quando decidiu remeter o pedido de prisão de Lula para Moro, a juíza estadual Maria Priscilla Oliveira ainda realizou audiências para ouvir 15 testemunha­s de casos de roubo e tráfico de drogas.

A corrupção não deve ser combatida por super-homens, mas por profission­ais que encontram condições privilegia­das, no bom sentido, de trabalho. Se as varas especializ­adas em crimes financeiro­s chegaram à Justiça Federal após o caso Banestado, é hora de aproveitar a Lava Jato para levá-las às Justiças estaduais.

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