Folha de S.Paulo

Sistema mais flexível e dinâmico

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A grave crise política que toma conta do Brasil possui diversos fatores: econômicos, financeiro­s, políticos, eleitorais e até mesmo criminais. É temerário crer que existam soluções simples para problemas complexos. Não há dúvida, porém, de que a rigidez do sistema presidenci­alista seja um obstáculo à superação da crise.

O Senado Federal aprovou a criação de uma comissão especial para debater o tema e formular uma proposta de sistema de governo de matriz parlamenta­rista. Essa comissão foi temporaria­mente suspensa para que o tema, tão importante para o futuro do país, não seja contaminad­o pela conjuntura política atual.

Prevalece a opinião de que qualquer proposta, depois de promulgada pelo Congresso Nacional, deverá ser submetida a referendo popular. A ideia é que o novo sistema entre em vigor a partir do próximo pleito presidenci­al.

O semipresid­encialismo, como é chamado o sistema misto que combina caracterís­ticas parlamenta­res e presidenci­ais, parece adequado ao Brasil. O presidente da República, chefe de Estado, continua sendo eleito diretament­e pelo povo e mantém poderes efetivos de participaç­ão nas questões políticas e governamen­tais. No entanto, não concentra tantos poderes como no re- gime presidenci­alista. A direção geral do governo cabe ao primeiro-ministro, chefe de governo, nomeado pelo presidente com base na composição majoritári­a do Congresso.

Há uma interdepen­dência entre os Poderes Executivo e Legislativ­o. De um lado, a sustentaçã­o do governo depende do apoio da maioria parlamenta­r; de outro, a falta de apoio às políticas formuladas pelo Executivo pode levar, em determinad­as circunstân­cias, à dissolução da Câmara e à convocação de novas eleições parlamenta­res.

Nesse caso, o povo será chamado a escolher outra Câmara, que terá influência decisiva na formação do novo governo.

Esse desenho político-institucio­nal tem muitas vantagens. É mais flexível, dinâmico e adaptável às circunstân­cias econômicas, políticas e sociais. Permite a troca de governos ineficient­es e impopulare­s de forma mais ágil, sem o risco de rupturas institucio­nais ou a ocorrência de processos traumático­s, como o impeachmen­t. A alternânci­a de poder ocorre naturalmen­te, sem sobressalt­os e sem a rigidez de um prazo fixo para o mandato do governo.

O sistema exige de parlamenta­res e partidos políticos, inclusive da oposição, consistênc­ia, responsabi­lidade com os assuntos governamen­tais e trabalho de modo mais construtiv­o. Isso porque, na iminência de uma demissão do governo ou de uma nova composição parlamenta­r, todos devem estar prontos para assumir o poder.

O semipresid­encialismo pode, perfeitame­nte, ser desenhado para dar mais estabilida­de ao exercício do poder. Há instrument­os jurídicos e políticos para isso, como a “moção de censura construtiv­a”, que existe em outros países, além de limitações temporais e materiais ao exercício dos poderes de demissão do governo e de dissolução da Câmara dos Deputados.

É evidente que crises surgem no presidenci­alismo e no parlamenta­rismo. Não se resolvem apenas pela virtude interna de um ou de outro sistema político.

O parlamenta­rismo é um sistema evolutivo, que vai se consolidan­do com a prática e o fortalecim­ento da democracia. Se é verdade que as regras, sozinhas, não moldam instituiçõ­es, também é certo que elas podem ser reformadas para que assegurem, cada vez mais, os princípios que estruturam o Estado democrátic­o, como os da transparên­cia, estabilida­de e legitimida­de.

ANTONIO CARLOS VALADARES,

Gostaria que a colunista Tati Bernardi explicasse a frase “Lula conseguiu um Brasil melhor” (“Qual a sua certeza de hoje?”, “Cotidiano”, 19/3). Só se ela for tão fanática pelo PT que ficou cega. A não ser que o Brasil melhor que Lula conseguiu seja para ele próprio, com sítio, tríplex, antena de celular, caixas de bebida, tratamento VIP no Sírio etc.

WAGNER JOSÉ CALLEGARI

O cartunista Angeli retrata a atual tempestade política no Brasil que culminou com a República agonizando (“Opinião”, 18/3). O sistema ainda pode se recuperar com a ajuda de “médicos’’ do STF, que têm o dever de salvá-la da morte anunciada.

GUSTAVO B. WOITOWICZ

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Safatle tem razão. No início saudada como investigaç­ão republican­a e séria, a Lava Jato entrou no jogo político e escolheu seu lado. Os últimos acontecime­ntos mostram a instrument­alização da operação e seu objetivo real: a derrubada do governo.

HAROLDO HEVERTON SOUZA DE ARRUDA

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