Folha de S.Paulo

GOVERNO SITIADO Moderado, Lula diz que pode ajudar Dilma

Em discurso diante de quase 100 mil pessoas, petista afirma que há tempo para melhorar atual governo até 2018

- GRAMPO

Ex-presidente ouviu gritos de seu nome e disse que atualmente é preciso conviver com a diversidad­e de opiniões

Em discurso diante de 95 mil pessoas na avenida Paulista, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva adotou um tom conciliado­r com a oposição, gritou “não vai ter golpe” junto com os manifestan­tes e disse que é possível consertar a gestão Dilma até o final do mandato, em 2018.

Desta vez, ao contrário do que fizera em falas recentes e seguindo estilo de trégua sinalizado em carta no dia anterior, o petista preferiu não fazer ataques à força-tarefa da Lava Jato e ao Judiciário.

Nos últimos dias, Lula foi alvo de críticas depois que foram tornados públicos trechos de grampos em que afirma que o Supremo Tribunal Federal está “acovardado”.

Em resposta, o presidente do Supremo, Ricardo Lewandowsk­i, disse que “o STF jamais esteve acovardado” e que o tribunal tem histórico de “coragem e protagonis­mo”. Já o ministro Celso de Mello, integrante mais antigo do Supremo, disse que “condutas criminosas perpetrada­s à sombra do poder jamais serão toleradas”. PEDIDO DE TRÉGUA No início da noite desta sexta, Lula falou por cerca de 20 minutos, em ato organizado por PT, sindicatos e movimentos sociais para a defesa do mandato de Dilma, que enfrenta processo de impeachmen­t no Congresso —algumas das entidades participan­tes do evento são financiada­s com verba federal.

Em alguns pontos do discurso, todo de improviso, o petista sinalizou uma trégua com os antipetist­as do país —no domingo (13), 500 mil pessoas superlotar­am a Paulista para pedir o afastament­o de Dilma, no maior protesto político da história do país.

“Não nos tratem como inimigos. Não veja ninguém de vermelho como se fosse inimigo. A nossa bandeira verde e amarela está dentro da nossa consciênci­a e do nosso coração.”

E completou, desta vez direcionan­do a fala aos presentes: “Temos que convencê-los que democracia é acatar o resultado do voto da maioria do povo brasileiro”.

“Este país precisa voltar a entender que democracia é a convivênci­a na diversidad­e. Quero é que a gente aprenda a conviver de forma civilizada com as nossas diferenças.”

“Acho engraçado que alguns setores ficaram dizendo essa semana inteira que somos violentos. E tem gente que prega a violência contra nós 24 horas por dia. Não existe espaço para ódio neste país”, completou Lula. POSSE VETADA Lula ainda depende de uma decisão judicial para assumir a chefia da Casa Civil, mas, já falando como ministro, disse que chegará ao go- verno federal para ajudar a presidente ao estilo “paz e amor”, aquele menos radical adotado na eleição de 2002 que o levou ao Planalto.

“Relutei muito, desde agosto do ano passado, para aceitar vir para este governo. E ao aceitar este governo, veja o que aconteceu comigo, eu virei outra vez o ‘Lulinha, paz e amor’. Não vou lá [governo] para brigar, vou para ajudar a companheir­a Dilma a fazer as coisas que ela tem que fazer neste país.”

Em um pedido de voto de confiança, Lula disse que a presidente Dilma sabe que ele pode dialogar com os mais diferentes setores da sociedade.

“Dilma sabe que posso dialogar com trabalhado­r, semterra, pequeno empresário, médio empresário, grande empresário, com fazendeiro, com banqueiro”, afirmou.

Segundo ele, até 2018, há tempo “suficiente para virar a história deste país”. E repe- tiu três vezes que aceitou ser ministro para poder “ajudar a presidente Dilma a fazer o que precisa ser feito no país”.

Na fala, não fez nenhuma menção ao grampo no qual Dilma indica que a sua nomeação ao ministério é uma forma de protegê-lo de eventual pedido de prisão do juiz Sergio Moro, da Lava Jato.

O discurso foi algumas vezes interrompi­do por aplausos e gritos dos presentes, que, segundo o petista, esta- vam ali “porque sabem o valor da democracia”. Numa dessas pausas, seguiu com o microfone o coro deles de “não vai ter golpe”, numa referência aos pedidos de impeachmen­t da presidente.

Em relação aos adversário­s políticos, Lula disse que eles ainda não aceitaram os resultados das eleições presidenci­ais de 2014, quando o atual senador Aécio Neves (PSDB) foi derrotado por Dilma por uma pequena margem.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil