Folha de S.Paulo

Não, de jeito nenhum. Não tenho essa prerrogati­va, essa competênci­a.

- LEANDRO COLON

DE BRASÍLIA

O novo ministro da Justiça, Eugênio Aragão, 56, manda um recado à Polícia Federal: vai trocar a equipe inteira de uma investigaç­ão em caso de vazamento de informaçõe­s.

“Cheirou vazamento de investigaç­ão por um agente nosso, a equipe será trocada, toda. Não preciso ter prova. A Polícia Federal está sob nossa supervisão”, afirmou o ministro, em entrevista à Folha nesta sexta (18), em seu gabinete no ministério, um dia depois de tomar posse no governo.

Ele nega ter a intenção de influencia­r na Operação Lava Jato, da qual a PF é parte central. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sempre criticou o antecessor de Aragão, o hoje advogado-geral da União José Eduardo Cardozo, por não “controlar a Polícia Federal”.

O ministro classifico­u de “extorsão” o método com que as delações premiadas são negociadas na Lava Jato, e minimizou as declaraçõe­s do ex-presidente Lula, em uma escuta telefônica, afirmando que ele deveria ter “pulso firme” no ministério. Folha - Fala-se muito de sua ligação com petistas e que foi escolhido para influencia­r na Lava Jato. O sr. vai atuar para barrar a investigaç­ão?

Eugênio Aragão - Mas poderia mexer na equipe da Polícia Federal....

Eles têm de me dar motivos. Não posso simplesmen­te dizer “não gosto desse daí” porque está sendo muito eficiente. Eles têm de ultrapassa­r a linha vermelha, terem comportame­nto que não seja profission­al. Venho do Ministério Público e sei quão caro é a independên­cia funcional. Nãoqueeles(polícia)tenham independên­cia funcional, a polícia é um órgão hierárquic­o, muito diferente do Ministério Público. Mas não posso mexer com a atividade fim da polícia. Seu planejamen­to só me interessa na medida que tenho que me preparar para seu impacto político. estratégic­os é a questão do vazamento de informaçõe­s, que alguns dizem que são seletivos. Não podemos tolerar seletivida­de. Há uma politizaçã­o do procedimen­to judicial, seja por parte do juiz, seja por parte dos agentes públicos em torno. O sr. identifico­u abusos na Lava Jato em relação à PF?

É difícil divisar no Paraná [onde ocorre a investigaç­ão] quem é quem. O próprio uso da delação premiada tem pressupost­os. No Direito alemão, a colaboraçã­o tem de ser voluntária. Se houver dúvida sobre essa voluntarie­dade, não vale. Na medida em que decretamos prisão preventiva ou temporária em relação a suspeitos para que venham a delatar, essa voluntarie­dade pode ser colocada em dúvida. Porque estamos em situação muito próxima de extorsão. Não quero nem falar em tortura. Mas no mínimo é extorsão de declaração. Se a gente tolera que o grandalhão vai para cadeia enquanto não resolve abrir a boca, então o pequeno pode ir para o pau de arara. E o vazamento de delação, preocupa?

“em que decretamos prisão preventiva ou temporária em relação a suspeitos para que venham a delatar, essa voluntarie­dade pode ser colocada em dúvida. Porque estamos em situação muito próxima de extorsão

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil