Folha de S.Paulo

UE fecha pacto com a Turquia sobre destino de refugiados

Pelo acordo, Ancara receberá de volta migrantes que tentam chegar á Grécia ilegalment­e; bloco dobrará para € 6 bi pacote de ajuda

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Após intensa negociação e a um custo superior a R$ 24 bilhões, a União Europeia fechou nesta sexta (18) o acordo com a Turquia para conter o fluxo de migrantes e refugiados vindos sobretudo da Síria para os países do bloco.

A chanceler alemã, Angela Merkel, classifico­u o pacto selado durante cúpula em Bruxelas de “fundamenta­l”, mas sujeito a contratemp­os.

Pelo acerto, a partir deste domingo (20) a Turquia passará a receber de volta todos os migrantes e refugiados que forem pegos cruzando ilegalment­e o mar Egeu rumo à Grécia —mesmo os que chegarem a alguma ilha grega.

Em contrapart­ida, a cada refugiado sírio que retornar à Turquia, um outro que já estiver em acampament­os turcos será reassentad­o em algum país-membro da UE. Quem não tentou entrar antes ilegalment­e na Europa terá prioridade na lista.

Essa “troca” de refugiados gerou reações da ONU e de várias entidades de defesa dos direitos humanos, que apontaram violação da lei internacio­nal e de convenções de proteção ao refúgio.

A Turquia se compromete a tratar os “retornados” conforme a lei, incluindo garantias de que não serão devolvidos a seu país, a Síria, em guerra civil há cinco anos.

Haverá um limite de 72 mil refugiados a serem reassentad­os nos países da UE, abaixo dos 108 mil defendidos por entidades internacio­nais.

Só neste ano já chegaram à Grécia 143 mil pessoas pelo Egeu. Os 45 mil migrantes e refugiados atualmente em solo grego não estarão sujeitos a voltar à Turquia, e a UE terá de realocá-los no bloco.

A UE quer fechar a rota balcânica, por onde vêm refugiados da Turquia para a Europa central e por onde passou 1 milhão de pessoas em 2015. GUARDAS E INTÉRPRETE­S A UE enviará à Grécia guardas de fronteira, especialis­tas no processo de asilo e intérprete­s para dar aos refugiados a oportunida­de de uma entrevista pessoal caso queiram se asilar no país.

O bloco também atenderá uma das principais exigências turcas: dobrar para € 6 bilhões (R$ 24,2 bilhões) a ajuda para lidar com os refu- giados. Os primeiros € 3 bilhões (R$ 12,1 bilhões) serão liberados em 2016 e 2017.

Quando essa parcela for gasta e a UE comprovar os resultados, a outra metade será entregue gradualmen­te a Ancara em 2018.

O acordo sofreu críticas na UE por ceder demais à Turquia, um país que vive uma turbulenta situação política, com repressão à mídia —há 32 jornalista­s detidos, e o principal jornal de oposição está sob intervençã­o.

Um documento prévio de conclusões da cúpula citava a necessidad­e de o governo turco respeitar a liberdade de expressão, mas isso foi retirado da declaração final.

A UE ainda vai agilizar o processo para isentar de vistos de turismo os cidadãos turcos que forem à Europa e se compromete­u a retomar a análise do processo de entrada da Turquia no bloco, que se arrasta desde 2005.

O presidente Recep Tayyip Erdogan, porém, acusou a UE de hipocrisia. “Aqueles que não conseguem achar espaço para poucos refugiados e mantêm esses inocentes em condições vergonhosa­s deveriam olhar para si.” (JM)

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Louisa Gouliamaki/AFP Refugiado sírio na Grécia agradece ironicamen­te à União Europeia por fechar fronteiras
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Lefteris Pitarakis/Reuters Síria se abriga em um dos contêinere­s em campo de refugiados na cidade turca de Kilis

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