Folha de S.Paulo

Argentinos saúdam possível anúncio dos EUA sobre ditadura

Em Buenos Aires, líder deve revelar intenção de abrir arquivos americanos sobre período

- LUCIANA DYNIEWICZ

Mesmo em meio a críticas aos americanos, a notícia de que o governo dos Estados Unidos vai se “empenhar” para liberar seus documentos relacionad­os à última ditadura argentina (1976-1983) repercutiu bem entre associaçõe­s de direitos humanos.

O prêmio Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel disse à Folha que seria importante que a retirada do sigilo dos documentos tidos como secretos tivesse ocorrido antes. “Mas poderá servir para reparar danos. Precisamos estar abertos ao diálogo.”

Para Giselle Tepper, da associação H.i.j.o.s, de filhos de torturados e desapareci­dos, tornar os relatórios públicos é uma obrigação de todo Estado democrátic­o.

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, deverá fazer o anúncio oficial na quinta-feira (24) em sua visita à Argentina. No mesmo dia, o golpe que instaurou a ditadura completará 40 anos.

Tanto Tepper como Esquivel dizem acreditar que a saída de Obama da Presidênci­a não deverá prejudicar a liberação dos arquivos.

“Entendemos que o país está assumindo um compromiss­o”, afirmou Tepper.

À Folha, o secretário de Direitos Humanos da Argentina, Claudio Avruj, disse que a tendência é que o sucessor de Obama dê continuida­de ao processo, como ocorreu nos governos de Bill Clinton e George W. Bush.

Cerca de 4.700 papéis sobre a ditadura argentina fo- ram liberados pelos dois dirigentes. Eles continham provas apenas de violações de direitos humanos. Agora, deverão ser reveladas informaçõe­s sobre o envolvimen­to do governo americano com os generais. No Chile, relatórios divulgados por Clinton já comprovara­m essa relação.

A decisão de tornar os relatórios públicos não precisa passar pelo Congresso. “O Executivo tem poder absoluto”, explicou Carlos Osorio, da National Security Archive, entidade que trabalha pelo acesso público a documentos. AVÓS Nesta sexta-feira (18), a associação das Avós da Praça de Maio, a mais reconhecid­a entidade de familiares de vítimas daditadura,publicouum­anota em que “celebra” a decisão, mas lembra que a demanda já havia sido feita aos EUA por diversos presidente­s.

A intenção das avós é deixar claro que a liberação dos papéis não foi uma vitória do atual presidente, Mauricio Macri. Praticamen­te todas as organizaçõ­es de direitos humanos do país têm forte relação com a antecessor­a de Macri, Cristina Kirchner. A exmandatár­ia apoiava os grupos na Justiça e financeira­mente.

A nota das Avós recorda que o Estado americano esteve envolvido no último golpe, em 1976, e diz que a entidade espera que “nunca mais exista um governo estrangeir­o ditando receitas que privem nosso povo de viver com dignidade”. O texto se refere à aproximaçã­o de Macri com os Estados Unidos, criticada pela associação.

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