Folha de S.Paulo

GOVERNO SITIADO Nada muda sem impeachmen­t, diz Pastore

Para ex-presidente do BC, somente um novo governo seria capaz de adotar política econômica coerente e bem-feita

- BRUNO VILLAS BÔAS

José Julio Senna, da FGV, afirma que administra­ção de Dilma perdeu totalmente a capacidade de agir

Com a retomada do cresciment­o dependendo de reformas e do ajuste fiscal, economista­s consideram que a mudança de governo, com um impeachmen­t da presidente Dilma, seria uma das saídas para a crise econômica.

Em seminário no Rio nesta sexta (18), o ex-presidente do Banco Central Affonso Celso Pastore foi um dos economista­s a sugerir esse caminho. Para ele, os desequilíb­rios fiscais dificultam o trabalho do BC de conter a inflação.

“O Banco Central perdeu a potência da política monetária. Perdeu potência porque os desequilíb­rios no lado fiscal são de tal ordem que transforma­m a política econômica em estilingue para matar elefante”, disse.

Segundo ele, existem dois caminhos: “O impeachmen­t ou nada muda”:

“Muda o governo, entra um governo com legitimida- de, com uma política econômica coerente e bem-feita, com uma agenda de reformas, muda totalmente o quadro. E aí voltamos a pensar numa política monetária.”

Homenagead­o durante o seminário pelos 70 anos, o professor José Julio Senna, do Instituto de Economia da FGV (Fundação Getulio Vargas), fez coro com a ideia. Ele disse que acabar com o impasse político seria o ponto de partida de saída da crise.

“O governo perdeu totalmente a capacidade de agir, negociar, implantar reformas, introduzir medidas de políticas econômicas, mínimas que sejam. Então, mudança de governo é hoje requisito importante para as coisas se resolverem”, disse.

Segundo o economista, o desequilíb­rio fiscal do país impede que a inflação brasileira caminhe para o centro da meta do governo, de 4,5% ao ano. A inflação fechou 2015 em 10,67%. DOMINÂNCIA FISCAL Essa perda de potência é algo discutido por economista­s desde o ano passado. É o que se chama na teoria econômica de dominância fiscal —quando a piora nas finanças públicas acaba limitando o uso de juros para controlar a inflação.

Isso ocorre num cenário em que a alta dos juros aceleram o endividame­nto público. Esse cresciment­o gera incertezas e leva investidor­es a sacar recursos desses títulos e migrar para o dólar, o que acaba gerando inflação.

Senna disse ainda que teme as consequênc­ias de uma possível “guinada à esquerda” na política econômica. Segundo ele, se o governo se mantiver no poder, terá pouco espaço para negociar com o Congresso e passaria a atuar “na marra”.

“O governo teria de adotar medidas que não dependesse­m do Congresso. Estamos falando de baixar juros, usar reservas cambiais. O uso das reservas para reduzir a dívida seria um erro, por exemplo. As reservas são um seguro contra pressões externas.”

O professor da PUC-Rio Afonso Bevilaqua, ex-diretor do BC, tem avaliação semelhante. Para ele, mesmo que o impeachmen­t de Dilma saia de cena, dificilmen­te o governo teria apoio do Congresso para ser bem-sucedido.

Nesse cenário, ele disse, os investidor­es exigiriam um “prêmio” maior pelo risco brasileiro.

Muda o governo, entra um governo com legitimida­de, com uma política econômica coerente e bem-feita, com uma agenda de reformas, muda totalmente o quadro. E aí voltamos a pensar numa política monetária

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Zanone Fraissat - 2.jun.2015/Folhapress Affonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco Central
 ?? Leo Pinheiro - 11.mar.2016/Valor/Folhapress ?? José Julio Senna, do Instituto de Economia da FGV
Leo Pinheiro - 11.mar.2016/Valor/Folhapress José Julio Senna, do Instituto de Economia da FGV

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