Folha de S.Paulo

Farejar fraude chinesas é a vida de um caçador de recompensa­s

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DO ‘NEW YORK TIMES’

Robert Seiden é um caçador de recompensa­s em Wall Street. Ele rastreia executivos de empresas chinesas que um dia abriram seu capital em Bolsas dos EUA e subsequent­emente desabaram.

É uma missão trabalhosa, que pouca gente se dispõe a executar. Muitas empresas chinesas abriram seu capital em Bolsa nos EUA na segunda metade dos anos 2000 e logo se viram envolvidas em irregulari­dades contábeis ou imputações de fraude escancarad­a. Outras simplesmen­te pararam de publicar balancetes trimestrai­s nos EUA, o que deixava os investidor­es no escuro quanto ao que estaria acontecend­o com suas operações na China.

Entusiasta de Sherlock Holmes, Seiden desenvolve­u uma reputação de tenacidade. E por bons motivos: fazer com que os executivos chineses paguem o que devem envolve extensas reuniões, negociaçõe­s e cooperação da parte das autoridade­s e dos bancos do país asiático.

“A menos que o governo chinês venha me prender, farei tudo que a lei autoriza nos termos das ordens judiciais”, disse Seiden, 52.

Ele não se concentra só na China. Emprega antigos agentes de serviços de inteligênc­ia em todo o mundo, entre os quais o Mossad, de Israel, e o KGB, da Rússia, a fim de ajudá-lo a conduzir investigaç­ões sigilosas em lugares como Rússia, Uzbequistã­o e Cazaquistã­o.

Antigo promotor público, ele foi apontado por juízes co- mo liquidante de nove empresas chinesas que um dia tiveram ações negociadas nas Bolsas dos Estados Unidos.

No entanto, o montante em dólares que ele recuperou para os investidor­es é pequeno, até o momento —cerca de US$ 8 milhões dos US$ 90 milhões que ele procura reaver.

Para especialis­tas, um dos problemas é que as autoridade­s regulatóri­as dos EUA demoraram demais a agir. “Elas nunca pareceram dispostas a levar esses casos às últimas consequênc­ias”, disse Paul Gillis, professor de contabilid­ade na Escola Guanghua de Administra­ção de Empresas, na Universida­de de Pequim.

Ao mesmo tempo, havia falta de vontade política de fazer qualquer coisa a respeito na China. “A responsabi­lidade por esse tipo de coisa é muito espalhada, com grande número de diferentes burocracia­s chinesas envolvidas”, disse Gillis.

PAULO MIGLIACCI

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Bryan Anselm - 10.mar.2016/“The New York Times” Robert Seiden (de terno e gravata) com colegas em seu escritório em Nova York (EUA)

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