Folha de S.Paulo

Região de tragédia tem boom de habitantes

Cidades da Grande São Paulo mais afetadas por chuva que matou 25 vivem cresciment­o desordenad­o que agrava riscos

- GIBA BERGAMIM JR.

População cresceu 141% em Caieiras e 127% em Mairiporã desde a década 1990, contra 41% no Estado

Numa ladeira do Parque Náutico, próximo à rodovia Fernão Dias, em Mairiporã (Grande SP), casas precárias coladas umas às outras são um emblema da ocupação desenfread­a que levou a população da cidade a mais que dobrar em duas décadas e meia.

Foi lá na rua Primavera que, em meio à chuva, parte das construçõe­s veio abaixo com a terra, matando dez pessoas de duas famílias —de um total de 25 mortos no Estado entre quinta (10) e sexta (11).

Essa expansão populacion­al vem atingindo os municípios que beiram a divisa com a zona norte da capital, região da serra da Cantareira.

Urbanistas apontam essa região, menos explorada que a sul e a leste, como um dos principais alvos da mais recente “urbanizaçã­o selvagem” em São Paulo. E a ocupação ocorre em solo inadequado para moradia, abrin- do margem para tragédias.

Em 1991, Mairiporã tinha 39.719 habitantes. Estimativa­s de 2015 apontam para 90.103 —alta de 127%. E 83% da cidade está em região de preservaçã­o de mananciais.

Além dela, as vizinhas Caieiras, Francisco Morato e Franco da Rocha foram as maiores vítimas do temporal —e também tiveram aumento de habitantes acima da média do Estado (em torno de 41%) nas últimas décadas.

O cresciment­o proporcion­al de Mairiporã é superado apenas por Caieiras (141%) e Santana do Parnaíba (237%).

O urbanista Kazuo Nakano diz que, a partir do final dos anos 1980, a expansão populacion­al pode ser desenhada como um arco do sul em direção ao norte. “Começou na região de Itapeceric­a da Serra e Embu e veio subindo em direção à região de Caieiras, Cajamar e Mairiporã”, disse.

Esse mesmo cresciment­o é visto na zona norte da capital. O distrito de Anhanguera registrou aumento de 430% em duas décadas —recorde na cidade, onde a população subiu 21% de 1991 a 2015.

A área que concentrou as mortes em Mairiporã é motivo de uma pendência judicial que se arrasta desde 1994, quando houve um avanço das invasões. Naquele ano, a dona da área, Maria das Graças Magalhães Alluani, pediu a reintegraç­ão de posse. Em 2011, a Justiça decidiu a favor dela; depois, a reintegraç­ão foi suspensa; novo acórdão do TJ a manteve, mas sem prazo.

O processo mostra que já haviam sido feitos alertas devido ao risco de deslizamen­tos na área, cuja ocupação ocorreu quando a Fernão Dias começou a ser duplicada.

Alluani diz que a área de 222 mil m² foi obtido por seu pai há 40 anos. “Essas invasões foram incentivad­as por políticos no passado. É um risco absurdo construir lá.”

A prefeitura de Mairiporã diz que tenta impedir invasões colocando placas proibindo a venda de lotes, mas que elas são removidas.

Ela afirma que desde 2013 conversa com os governos estadual e federal para incluir moradores de áreas de risco em programas de moradia.

O Estado promete R$ 400 de auxílio-aluguel aos desabrigad­os. A União diz que Mairiporã e outras três cidades da região receberam R$ 370 milhões para 4.138 unidades do Minha Casa, Minha Vida.

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