Folha de S.Paulo

CRÍTICA Livro traz relato sóbrio e claro sobre o aqueciment­o global

‘A Espiral da Morte’ conta o que ocorre hoje nas extremidad­es do planeta

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bem disso: ele ouviu o barulho (o estrondo de cachoeira vindo de debaixo do chão de uma geleira).

Um dia desses, pedações do tamanho de países inteiros começarão a despencar no mar como pingões de chuva, na Groenlândi­a e na Antártida. E aí o oceano do mundo vai subir, talvez vários metros. Em muitos lugares o ar vai secar. Tufões e furacões serão cada vez mais frequentes, assim como epidemias espalhadas por mosquitos.

Não é exatamente uma leitura leve para levantar o astral — como aliás Claudio cuidou de deixar bem claro já no título. Mas, ainda assim, espero que muita gente leia.

Afinal, é meio assustador que algo tão enormement­e importante, que definirá tão profundame­nte o destino de nossa espécie, seja tão pouco compreendi­do por nós humanos vivendo sobre a Terra.

É assustador que todos os grandes partidos políticos do Brasil façam projetos de grandes obras ignorando completame­nte o fato consumado de que o clima está mudando. É assustador que o desenho de nossas cidades, nosso modelo produtivo e nossa matriz energética continuem extremamen­te desorganiz­ados, desprepara­dos para a crise ambiental que já começou a chegar.

Eu estava lendo o catatau de quase 500 páginas anteontem, quando minha filha de três anos, decidida a evitar que eu cumprisse o prazo desta resenha para a Folha, entrou no meu quarto e pediu para eu contar a história do livro para ela. Quando ela viu a capa — um massivo iceberg groenlandê­s flutuando na água verde-esmeralda —, comentou: “Que lindo, papai”. Sorri e olhei para ela. Subitament­e, me dei conta de algo que nunca havia me ocorrido: talvez chegue um dia na vida dela em que será muito difícil encontrar uma única praia para ela se deitar ao sol. DENIS RUSSO BURGIERMAN AUTOR Claudio Angelo EDITORA Companhia das Letras PREÇO R$ 59,90 (496 págs.) AVALIAÇÃO Muito bom

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