Tecendo nos últimos 20 anos.
Folha - Emcomentáriorecente sobre as dificuldades de entrada nas principais operadoras de TV por assinatura, o senhor apontou‘interferênciasindevidas no mercado’. Quais são os entraves à livre concorrência no mercado brasileiro?
Edgard Diniz - A gente defende os princípios da livre concorrência independentemente de nos prejudicar ou beneficiar.
Entrando no futebol, é importante que os direitos de transmissão dos clubes sejam negociados em janelas, como foi determinado pelo Cade [Conselho Administrativo de Defesa Econômica]. Antes disso, havia uma situação em que a Globo tinha vantagem competitiva indevida se conseguisse fazer com que a comercialização fosse conjunta.
Outra vantagem é que os clubes conseguem ter direitos razoáveis respeitados. Por exemplo, podem ter as arenas chamadas por seus nomes, ou seja, não ter ninguém arbitrariamente as rebatizando. Os senhores concorrem com o Grupo Globo em diferentes frentes. Primeiramente, como canal por assinatura, com o SporTV, que pertence à Globo. Competem pelos direitos de transmissão. Como disputar com um grupo historicamente tão enraizado no país?
A Globo faz um trabalho extraordinário, mas acreditamos que há espaço para mais de um ‘player’.
Precisamos fortalecer o futebol nacional. E os pilares para isso são: profissionalização da gestão, a concorrência pelos direitos de transmissão, já que eles são a maior fonte de receita dos clubes, e uma cooperação entre grupos de mídia detentores de direitos com os clubes.
Com a combinação dos fatores, os clubes conseguirão encontrar fontes de receitas que permitirão que eles de- pendam menos dos direitos de transmissão. Negociamos com Palmeiras, Grêmio e Atlético-PR, clubes que têm arenas modernas. Eles podem gerar receita com naming rights, por exemplo, quando o nome das arenas são falados em transmissão. Além disso, estamos conversando sobre ceder o sinal da transmissão para que os sócios-torcedores possam ver o replay dos lances nos celulares. Isso valorizaria ainda mais os programas de sócios.
No longo prazo, assim, os direitos vão custar mais. Mas é melhor pagarmos mais e ajudar o esporte do que fazermos o futebol brasileiro nosso refém. É o que diferencia nosso projeto do que vem acon-
Os clubes receberam oferta conjunta de R$ 1,1 bi da Globo pelos direitos de TV aberta e TV fechada. Acha que a oferta do Esporte Interativo pela TV fechada fará com que essa proposta saia da mesa?
Li uma entrevista de diretor do Grupo Globo [Pedro Garcia, ao blog do Rodrigo Mattos, no UOL], na qual ele fala que serão respeitadas as determinações do Cade, então acredito que nenhuma oferta do tipo será feita mais.
Gostariadefrisar,porém,os efeitos da entrada do Esporte Interativo na disputa. Antes de fazermos a oferta, a Globo fechou com clubes um contrato em que reduzia o valor do acordo vigente em 25% em troca de empréstimo. Com isso, ainda renovava os direitos por dois anos. Um ambiente sem concorrência leva a isso.
Quando a gente entrou e fez uma oferta, a Globo voltou e refez a proposta dela, e foi aí que surgiu a proposta de R$ 1,1 bilhão, sendo R$ 1 bi para aberta e R$ 100 milhões para fechada. Ou seja, ela deixou de propor a redução de 25% e transformou o empréstimo em luvas. A entrada do Esporte Interativo fez com que a Globo melhorasse em cerca de 40% a sua oferta. [O EI oferece R$ 550 milhões aos clubes pelos direitos de transmissão em TV fechada]. Qual a maior dificuldade encontrada na negociação?
Tivemos dificuldade em encontrar quem tivesse coragem de tomar a decisão de fazer uma coisa diferente. Um dos clubes que não fechou com a gente disse: “Eu não tenho dúvida de que a proposta de vocês é superior à da Globo, mas não tenho coragem de tomar essa decisão”. O que está embutido nessa falta de coragem? Difícil dizer. Um argumento que surgiu foi o de que vocês não teriam estruturaparafazertransmissões do mesmo nível que as atuais.
Foram argumentos criados pela própria Globo para tentar convencer os clubes. Bastaram cinco minutos de conversa, mostrando a qualidade das nossas transmissões, para resolver. Aliás, vou desmistificar: contratamos as mesmas produtoras que o SporTV [que pertence ao grupo Globo] para fazer nossos jogos. Essa tentativa de criar um mito em torno da produ-
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A entrada do Esporte Interativo na disputa pelos direitos de transmissão do Brasileiro fez com que a Globo melhorasse em 40% a oferta aos clubes