Folha de S.Paulo

Minha mulher. [Risos] E meus filhos.

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É Brasil ou “House of Cards”? Desde que a crise política em Brasília esquentou, pipocaram comparaçõe­s entre os o governo brasileiro e o seriado da Netflix.

Do jornal americano “Washington Post” a enquetes no site “Buzzfeed”, fãs têm comparado o noticiário político nacional às tramoias protagoniz­adas por Frank Underwood (Kevin Spacey) e seu braço direito, Doug Stamper (Michael Kelly), para alcançar a Presidênci­a do Estados Unidos.

A própria Netflix não se conteve: na quarta (16), postou uma mensagem no Twitter oficial do programa no qual Frank Underwood ria acompanhad­o da seguinte legenda: “Assistindo ao noticiário político brasileiro”.

Este foi um dos assuntos dos quais Michael Kelly não se esquivou em uma entrevista feita na quinta (17) em um evento do canal em Buenos Aires. A Folha o entrevisto­u acompanhad­a de dois jornalista­s argentinos.

Ao contrário da frieza de seu personagem, que jamais esboça qualquer emoção, o ator ri à solta. Até o jeito como se veste, com camisa de algodão leve e pulseira de miçangas vermelha no pulso direito, destoa do vilão Doug Stamper. gosto mais nele é a lealdade. E os seus vícios; ele era viciado na Rachel, era viciado em Frank, em trabalho. Tudo com que se envolve, fica obcecado. Pelo que vimos na última temporada, acho que Doug é a única pessoa leal a Frank, em que ele pode confiar. Você é tão leal assim a alguém na vida real? Você entende melhor a política agora que vive esse personagem?

Me formei em Ciência Política na universida­de. Sempre fui muito interessad­o. Mas claro, entendo o sistema político melhor estando nessa série, e como funciona no país. Sempre há dúvidas, por exemplo, “Ei, o que tal coisa significa?”. Preciso procurar no Google, ou algo do tipo, porque às vezes a cena fica muito protocolar. É um show sobre política, sobre poder. Mas, sim, definitiva­mente entendo melhor agora. Você está acompanhan­do o que acontece no Brasil?

Seiapartir­doqueapare­ceu naCNNnasúl­timasseman­as. Mas não o bastante para comentar a política do seu país, infelizmen­te. Li sobre as dificuldad­es econômicas recentes, então era só uma questão de tempo até que virasse um problema político. E sobre o lado manipulado­r...

Felizmente, a maior parte disso já estava no texto. Beau Willimon, produtor, diretor e criador da série, me deu duas recomendaç­ões, muito antes de entrarmos no set. Na nossa primeira ligação, disse: não quero emoção. Não quero ver você se emocionar. E, no final da temporada, quero que a audiência diga: “Qual é a desse cara?”. Então, isso me deu a base para tudo, o jeito de falar, os maneirismo­s, tudo veio dessa orientação de Willimon, como uma pedra fundamenta­l.

VIDA

Nasceu na Filadélfia em 1969, filho de pai irlandês e mão italiana. É casado desde 2005, tem dois filhos e mora em Nova York

FORMAÇÃO

Graduado em ciência política pela universida­de Coastal Carolina

TRABALHO

Estreou na TV em 1994 e no cinema em 1998. Não teve papeis relevantes de viver Doug Stamper em ‘House of Cards’ Você se encontrou com o presidente Barack Obama. Como foi?

Fui ao jantar dos correspond­entes em Washington, tenho sido convidado todos os anos desde que a série estreou. Da última vez, fui com a minha mulher e me disseram: “Sabia que o presidente adora ‘House of Cards’?”. Me apresentei: “Presidente, primeira-dama, sou Michael Kelly”. E ele: “Você é tão diabólico como Doug na vida real?”. Pensei, ah meu Deus, essas pessoas sabem quem eu sou! Foi muito surreal. Falando de surrealism­o e da relação entre vida real e drama, a série estreia junto com as primárias. Como você vê esse paralelo?

Tenho feito muito mais entrevista­s na CNN desta vez [ri]. É ótimo. Sempre brinco que a série prevê o futuro. Quando vocês veem um episódio, os roteirista­s estão trabalhand­o no próximo. Mas todo ano acontece algo na vida real que já tínhamos gravado para a série. O maior exemplo é a Ku Klux Klan. Pensei: jamais vai acontecer na vida real. E depois, aconteceu e ‘Ah, meu Deus, o KKK, eu nem sabia que eles ainda estavam por aí!’. Sobre as primárias, tem sido interessan­te ver o que pode ser o Partido Republican­o chegar à convenção sem um indicado, o que pode acontecer assim como aconteceu em “House of Cards” neste ano e não acontece há muito tempo. Quem é seu candidato?

Hillary Clinton. Adoro muito do que Bernie Sanders tem a dizer, ele tem uma ótima mensagem. Mas, como ficou evidente com Obama, vai ser preciso trabalhar com o congresso na mão dos republican­os. Se para ele houve momentos difíceis, imagine o que Bernie Sanders precisaria enfrentar. Hillary é a pessoa que pode reaproxima­r os dois partidos. Ela provou que pôde fazer isso no passado. A possível candidatur­a de Donald Trump te preocupa?

Olha, eu apenas acho que os Estados Unidos merecem um governante que represente seu povo com conhecimen­to e respeito por todos os povos. Vou apenas dizer isso, e você já tem uma ideia do que penso [risos].

Sabia que o presidente adora ‘House of Cards’?’. Me apresentei: ‘Presidente, primeira-dama, sou Michael Kelly’. E ele: ‘Você é tão diabólico como Doug na vida real?’. Pensei ah meu Deus, essas pessoas sabem quem eu sou! Foi muito surreal

GABRIELA SÁ PESSOA

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Michael Kelly como Doug Stamper em cena do seriado ‘House of Cards’

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