AS VEIAS SANGRENTAS DA AMÉRICA LATINA
Com uma clientela estimada em 250 milhões de pessoas, ‘indústria mais brutal da Terra’ se expande
DE SÃO PAULO
“Por que as Américas se encontram afundadas em sangue no amanhecer do século 21?”, pergunta o jornalista britânico Ioan Grillo em “Gangster Warlords”.
Radicado no México, o autor de “El Narco”, que esteve na Flip 2015, viajou pela América Latina em busca de respostas. Investigou quatro grupos criminosos do continente, voltados ao narcotráfico: Mara Salvatrucha (ou MS-13), Mara 18 (El Salvador, Guatemala e Honduras), Shower Posse (Jamaica), Comando Vermelho (Brasil) e Cavaleiros Templários (México).
Grillo mostra como a atuação dessas gangues e seu enfrentamento com polícia e Forças Armadas foram responsáveis pelo assassinato de mais de um milhão de pessoas, desde o começo do milênio até 2010.
Como esse número só faz crescer, Grillo rotula o que a América Latina está vivendo hoje como um “Holocausto movido pela cocaína”.
Outros números estarrecedores são mostrados, como o aumento de 11% das taxas de homicídio no continente entre 2000 e 2011, enquanto no resto do mundo esse número vem caindo. Já o montante de dinheiro que o narcotráfico movimenta por ano é de US$ 300 bilhões, tornando a atividade irresistível para empresários e políticos corruptos sem medo de molhar as mãos em sangue.
Grillo volta no tempo e explica o surgimento de cada uma das facções estudadas. No caso do Comando Vermelho, regressa ao tempo da ditadura militar brasileira (1964-1985), quando presos políticos foram trancafiados junto a criminosos comuns no Rio de Janeiro. Para Grillo, foi nesse ambiente que bandidos adotaram uma hierarquia, e até um glossário, parecidos aos que usava a guerrilha política de então.
Do mesmo modo, Grillo mergulha também nas raízes históricas das gangues e cartéis da América Central, México e Jamaica.
Ainda que existam particularidades em cada caso, Grillo mostra que há muitos paralelos. Das entrevistas com sicários e chefões do tráfico, obtidas a muito custo e com risco para sua integridade física, Grillo conclui que as semelhanças estão na formação das hierarquias de poder, na tomada e manutenção de territórios, no modo como se realizam julgamentos e “justiçamentos” e na aparente generosidade na relação entre traficantes e as comunidades em que vivem.
Para Grillo, ainda, existem alguns lugares-comuns no tratamento da mídia e dos go- vernos do Primeiro Mundo para o tema do narcotráfico. Por exemplo, o autor não concorda com a ideia de que “o narcotráfico estaria relacionado a algum aspecto intrínseco da cultura da América Latina”.
Primeiro, porque a própria Europa já viveu períodos tão ou mais violentos. Depois, por acreditar que a “extrema pobreza, a desigualdade, os Estados fracos diante da corrupção” têm um papel crucial na equação.
E chama, ainda, a atenção para o efeito limitador que existe ao rotular os chefes de cartéis como líderes narco. Na verdade, há muito que essas figuras se transformaram em um “híbrido de empresários do crime, rockstars, gângsters e generais paramilitares”. Por consequência, os cartéis latino-americanos, hoje, fazem mais do que “apenas” vender drogas. Muito de sua renda vem de extorsões, sequestros, roubo de petróleo, tráfico de pessoas e o comando da mineração em algumas zonas. NARCONOMIA Outro título recém-lançado é o do também britânico Tom Wainwright, “Narconomics”. Igualmente baseado em viagens e pesquisas de primeira mão, o objetivo do jornalista, ex-correspondente da “The Economist” no México, é mos- trar como o negócio da droga se estrutura aos moldes de empresas capitalistas.
“Os cartéis determinam os preços das drogas e os mantêm estáveis porque têm sob controle os produtores de suas matérias-primas, assim como a Walmart e o McDonald´s, e também entregam franquias ou terceirizam operações, como faz a Coca-Cola e outras empresas”.
Ao irônico subtítulo do livro “como administrar um cartel”, Wainright fornece a explicação: “é, sim, um guia para os barões da droga, mas sobretudo um conjunto de boas pistas sobre como derrotá-los”.
O jornalista chama o narcotráfico de “indústria mais brutal da terra”, e contabiliza o número de clientes em mais de 250 milhões de pessoas no mundo.
Numa das passagens mais interessantes da obra, Wainright explica as razões pelas quais o narcotráfico vem sempre acompanhado de tanto sangue. “Este não é um negócio regulado por contratos, portanto não está isento de traições internas, infiltrações, e há um problema evidente para os barões da droga que é como controlar o pessoal que trabalha para eles. Portanto, a única maneira para garantir que os carregamentos cheguem, que não se desviem, que não haja deserções é o uso da força”, explica.
Para o autor, as penas e o sistema carcerário, em todos os países atingidos, precisam mudar. E descreve uma situação que o Brasil conhece bem. “As prisões oferecem um lugar para esconder-se e para recrutar e treinar novos membros, coisas que são extremamente difíceis para as organizações criminosas quando estão livres, pois fora da prisão existem as restrições impostas pela ilegalidade de seu negócio.”
Tanto Wainwright como Grillo defendem alternativas à guerra militar contra o narcotráfico. Pontuam iniciativas não bélicas iniciadas por alguns países e apontam para a necessidade urgente de discussão sobre a legalização das drogas, talvez a única saída para conter esse o fluxo de sangue que vem manchando o continente de forma ininterrupta. AUTOR Ioan Grillo EDITORA Bloombsbury (importado) PREÇO U$28 AUTOR Tom Wainwright EDITORA PublicAffairs (importado) PREÇO U$26.99
Nesta semana Maíra Charken (pronuncia-se Chárken), 37, assumiu a apresentação do “Vídeo Show” (Globo) ao lado de Otaviano Costa, substituindo Monica Iozzi.
Atriz formada em jornalismo e dança, ela participou do reality “Popstars” (SBT), integrou o balé do “Domingão do Faustão”, o grupo de improviso Deznecessários e atuou em algumas novelas (a última foi “Babilônia”, em que era a delegada).
Maíra conta que foi convidada a fazer um teste em novembro, mas “nunca” imaginou que seria escolhida para a função. “Fui bem, me joguei, mas saí falando: não vai dar em nada, vou esquecer”, lembra. “Quando veio o convite, foi um susto!”, diz.
Ela falou à coluna: Imaginavaserapresentadora?
Desde criança eu falava que queria ter um programa meu, imitava a Xuxa. E o “Vídeo Show” traz uma mescla, posso ser atriz, cantar, fazer palhaçada, me jogar no chão. É maravilhoso, o melhor cargo da televisão. Teme as comparações com a Monica Iozzi?
Não, isso era esperado. É normal que ela fosse deixar esses órfãos. Mudanças acontecem e as pessoas demoram um pouco para entender. Mas daqui a pouco vão ver que são duas pessoas diferentes que calharam de estar no mesmo programa. Eu e Monica somos totalmente diferentes de humor, no jeito de fazer piada, na personalidade. A gente não tem nada a ver, nunca estaríamos competindo pelo mesmo papel. O que você busca levar para a bancada do “Vídeo Show”? É um programa muito leve, dinâmico, com improviso. Vim de um grupo de improviso e minha cabeça não para, vejo piada em tudo, sou aquela que fica falando no meio do filme. No “Vídeo Show” me vejo na sala de casa com amigos fazendo comentários. Quero chegar a esse ponto, em que o telespectador se sinta numa ma rodinha com a gente comentando a novela, as coisas. Já aprendeu a lidar com a superexposição?
Você tá na maior emissora, num programa diário, ao vivo, e amado. Saí do 1 para o 1 milhão, é surreal. Mas acho legal fazer o programa como se estivesse falando para os 4.000 seguidores do meu Snapchat (risos).