Falhas olímpicas
O que deveria ser uma celebração começou com constrangimento. Eis o saldo da abertura, neste fim de semana, da Vila dos Atletas que abrigará os desportistas vindos para a Olimpíada do Rio.
Com a chegada das primeiras delegações nacionais surgiram também as queixas sobre as más condições de parte dos apartamentos.
A reclamação mais forte partiu da equipe australiana, que considerou inabitáveis os locais designados. Havia banheiros inoperantes, vazamentos, fiações elétricas expostas, falta de iluminação e sujeira. A chefe da delegação australiana declarou ser impossível os atletas do país ocuparem por ora seus alojamentos.
A seleção feminina de futebol da Suécia também postergou a entrada na vila. A exemplo dos australianos, hospeda-se em hotéis até que as falhas sejam sanadas.
Outros contingentes nacionais, incluindo o do Brasil, contrataram por conta própria profissionais para realizar obras de acabamento antes da chegada de seus atletas.
Diante das mazelas, a entidade organizadora da Rio-2016 criou uma força-tarefa com mais de 500 pessoas, que devem trabalhar sem interrupção para tentar concluir todos os reparos até quinta-feira (28).
Embora lamentáveis, as falhas não parecem ser generalizadas, co- mo sugerem declarações elogiosas de outras delegações. Problemas no início, ademais, não são incomuns num empreendimento de tamanha magnitude.
Localizada em Jacarepaguá, a Vila dos Atletas é composta por 3.604 apartamentos em 31 edifícios de 17 andares. Durante os Jogos, o complexo receberá até 17,9 mil desportistas e integrantes de equipes técnicas de 206 países.
Os problemas, é evidente, maculam a imagem dos Jogos no Rio. Ela já havia sido abalada pelo fracasso da meta de despoluição da baía de Guanabara, sede das competições de vela. Houve ainda a trágica queda de trecho da ciclovia na avenida Niemeyer, com dois mortos.
Também concorrem para isso, decerto, as declarações no mínimo desastradas de autoridades brasileiras. Ao comentar a recusa da Austrália em ocupar seus apartamentos, o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), disse que estava “quase botando um canguru na frente do prédio” do país, para que os atletas se sentissem em casa.
Não foi a primeira vez que o alcaide pecou pela inconveniência. Apesar de ele ter recuado após a repercussão da frase, sua atitude é incompreensível em quem responde pela sede dos Jogos e busca usar esse trampolim para alçar voos mais altos na política.