Folha de S.Paulo

A vaca voou

- BERNARDO MELLO FRANCO

BRASÍLIA - Há quatro meses, perguntara­m ao vereador Andrea Matarazzo se ele deixaria de ser candidato a prefeito de São Paulo para apoiar a senadora Marta Suplicy. “É mas fácil uma vaca voar!”, respondeu o dono das gravatas mais elegantes da Câmara Municipal. A mimosa decolou nesta segunda (25). O ex-tucano será o vice da ex-petista, agora filiada ao PMDB.

A aliança escreve um novo capítulo na história de reviravolt­as da política paulistana. Um deputado sugeriu que a chapa seja chamada de “Ma-mata”. Outros apelidos virão.

Embora tenham nascido no mesmo berço aristocrát­ico, Marta e Matarazzo sempre militaram em campos opostos. Ela entre os petistas, sob a liderança de Lula; ele com os tucanos, ao lado de José Serra e FHC.

O chanceler do governo interino tem tudo a ver com o acordo. Serra convenceu Matarazzo a se filiar ao PSD, de seu escudeiro Gilberto Kassab. As pesquisas fizeram o resto, ao mostrar que o vereador não te- ria chances como cabeça de chapa.

O pano de fundo da aliança é a corrida presidenci­al de 2018. Ao inflar sua velha rival, Serra atrapalha Geraldo Alckmin, que lançou o estreante João Doria. O ministro e o governador medem forças no PSDB enquanto o senador Aécio Neves tenta acertar as contas com a Lava Jato.

A chapa Marta-Matarazzo parece ter potencial. A ex-prefeita ganha tempo de TV e passa a contar com um puxador de votos na parte rica da cidade. Ela precisa reduzir a rejeição nos bairros centrais, que buscam alguém que seja capaz de derrotar o PT e não se chame Celso Russomanno.

O problema é que Marta sempre foi alvo do antipetism­o, que a venceu em 2004 e 2008. Ela ainda terá que explicar as novas companhias ao eleitor da periferia, que sustenta sua popularida­de nas pesquisas.

A missão da senadora será difícil, mas não chega a ser impossível. Há quatro anos, Fernando Haddad virou prefeito depois de unir Lula e Paulo Maluf na mesma foto.

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