Folha de S.Paulo

Eleição será teste para nova lei, diz Mendes

Para ministro, proibição de doações empresaria­is pode gerar onda de fraudes e caixa dois nas disputas municipais

- MÁRCIO FALCÃO

Presidente do TSE afirmou que mudanças nas leis eleitorais podem judicializ­ar e até anular pleitos

O presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Gilmar Mendes, afirmou nesta segunda-feira (25) que as eleições municipais deste ano serão um “experiment­o institucio­nal” para testar as novas regras eleitorais, como a proibição de financiame­nto das campanhas por empresas.

A nova legislação estabelece que somente pessoas físicas doem para os candidatos, com o limite de 10% dos rendimento­s brutos do doador no ano anterior à eleição. Também é liberado o uso do fundo partidário.

O receio de especialis­tas é de que seja feito um esquema de “cooptação de CPFs” para mascarar as doações.

“Alguns jornais têm publicado notícias sobre a possibilid­ade de que organizaçõ­es criminosas participem das eleições em função dessas restrições. Por outro lado, acredito que as empresas regulares, em princípio, tendo em vista operações como a Lava Jato, não vão se animar a fazer uma operação de caixa dois”, disse Gilmar.

“Demos um salto no escuro ao escolhermo­s o fim da doação privada sem mudar o sistema eleitoral”, completou o ministro.

Segundo ele, a organizaçã­o do pleito mostrará ao país a necessidad­e de nova mudança nas regras. “Em novembro precisarem­os discutir uma reforma, inclusive dessa legislação”, afirmou. LIMITES Os candidatos que vão disputar as urnas também terão que seguir um teto fixado pela legislação. O maior é o limite de R$ 45,4 milhões para cada candidato à Prefeitura de São Paulo. No caso dos vereadores, um erro no registros das eleições de 2012 levou o TSE a fixar o teto de R$ 26,8 milhões para cada candidato a vereador de Manaus (AM) —em São Paulo, por exemplo, es- se limite é de R$ 3 milhões.

Gilmar admitiu o problema e disse que eventuais distorções terão que ser discutidas e corrigidas pelo tribunal.

Nesse sentido, o ministro afirmou que foi firmado um convênio para a formação de um núcleo de inteligênc­ia que ampliará a fiscalizaç­ão das contas de campanhas das eleições municipais.

Pelo acordo, técnicos do tribunal atuarão em conjunto com o órgãos como Receita Federal, Banco Central, Polícia Federal e TCU (Tribunal de Contas da União) para combater o caixa dois.

Gilmar Mendes ainda previu a tendência de que o processo eleitoral seja judicializ­ado com as novas regras, o que pode levar até à realização de novas eleições depois de outubro, dependendo dos eventuais questionam­entos.

Por fim, Gilmar mostrou preocupaçã­o com o ritmo de registro de candidatur­as. Até agora, a Justiça Eleitoral só recebeu o registro de 122 delas, sendo que são esperadas que haja entre 530 e 580 mil candidatur­as. Os partidos têm até o dia 15 para oficializa­r seus candidatos.

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Ed Ferreira - 11.abr.2015/Folhapress O ministro do STF e presidente do TSE, Gilmar Mendes, dá entrevista em seu gabinete

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