Folha de S.Paulo

Lula tenta reatar com as bases e promove retorno às origens

Alvo de acusações e com alta rejeição, petista passou a priorizar movimentos de esquerda e viagens ao Nordeste

- DANIELA LIMA MARINA DIAS

PT quer centrar sua participaç­ão nas eleições às periferias das grandes cidades, sobretudo em SP

Há duas semanas fotografia­s de um Luiz Inácio Lula da Silva de camisa social e blazer deram lugar, nas redes sociais, a um retrato em que o ex-presidente aparece de guaiabeira vermelha —uma típica vestimenta cubana— e chapéu de cangaceiro.

Não foi por acaso. A troca é o símbolo mais evidente de uma guinada estratégic­a que o petista vem formulando internamen­te para tentar reatar com suas bases eleitorais e sobreviver politicame­nte.

Não chega, porém, a ser uma tática inédita. Em sua trajetória, o ex-presidente sempre voltou às origens nos momentos de crise.

Mas ele nunca havia passado por uma situação tão dramática. O ex-presidente viu seu patrimônio e legado político derreterem nos últimos meses com o avanço da Operação Lava Jato. Foi denunciado sob acusação de tentar obstruir a investigaç­ão e é investigad­o por suposta ligação com imóveis que teriam sido reformados por empreiteir­as alvos da operação.

Segundo a última pesquisa Datafolha, Lula é rejeitado por 46% do eleitorado —o pior índice entre os testados para a eleição presidenci­al de 2018. Apesar de liderar os cenários para o primeiro turno, não aparece numericame­nte à frente de nenhuma hipótese de segundo turno.

O ápice do desgaste culminou com o afastament­o de sua afilhada política, Dilma Rousseff, da Presidênci­a.

Nesse cenário, Lula decidiu mergulhar no ambiente que lhe é mais afeito. Passou a priorizar agendas com movimentos de esquerda e viagens ao Nordeste —na região, é o presidenci­ável preferido de 39% da população. APOIO A HADDAD Seguindo a mesma lógica, a cúpula do PT quer priorizar sua participaç­ão nas eleições municipais às periferias das grandes cidades, principalm­ente em São Paulo.

Durante convenção que formalizou a candidatur­a à reeleição do prefeito Fernando Haddad, no domingo (24), Lula mais uma vez usou o chapéu de cangaceiro e disse que era preciso “ir para a periferia falar com nosso povo”.

Diante da rejeição ao PT na cidade e dos 8% de intenção de votos de Haddad no Datafolha, a ordem na sigla é reconquist­ar o eleitorado petista, que perdeu musculatur­a nos últimos anos.

Lula tem se dedicado pessoalmen­te a isso, de olho não só nas eleições municipais, mas em sua biografia.

São comuns relatos de que o ex-presidente exibe agora certo “abatimento”, o que também teria favorecido a busca por sua “zona de conforto”. Aliados têm dito que ele se “re-energiza” e “ganha fôlego” ao desempenha­r atividades com eleitores fiéis.

Há menos de duas semanas, no Nordeste, visitou assentamen­tos de sem-terra e cooperativ­as de agricultor­es.

Lula recorreu ao mesmo expediente em 2006, quando disputou a reeleição logo após o estouro do escândalo do mensalão. À época, fez campanha distribuin­do panfletos na porta de uma fábri- ca de automóveis no ABC paulista, seu berço político.

Em 2010, quando tentava eleger a sucessora, repetiu a agenda em circunstân­cias semelhante­s ao lado dela.

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Ricardo Stuckert - 13.jul.2016/Instituto Lula Lula durante visita a um assentamen­to do Movimento dos Trabalhado­res Sem Terra

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