Lula tenta reatar com as bases e promove retorno às origens
Alvo de acusações e com alta rejeição, petista passou a priorizar movimentos de esquerda e viagens ao Nordeste
PT quer centrar sua participação nas eleições às periferias das grandes cidades, sobretudo em SP
Há duas semanas fotografias de um Luiz Inácio Lula da Silva de camisa social e blazer deram lugar, nas redes sociais, a um retrato em que o ex-presidente aparece de guaiabeira vermelha —uma típica vestimenta cubana— e chapéu de cangaceiro.
Não foi por acaso. A troca é o símbolo mais evidente de uma guinada estratégica que o petista vem formulando internamente para tentar reatar com suas bases eleitorais e sobreviver politicamente.
Não chega, porém, a ser uma tática inédita. Em sua trajetória, o ex-presidente sempre voltou às origens nos momentos de crise.
Mas ele nunca havia passado por uma situação tão dramática. O ex-presidente viu seu patrimônio e legado político derreterem nos últimos meses com o avanço da Operação Lava Jato. Foi denunciado sob acusação de tentar obstruir a investigação e é investigado por suposta ligação com imóveis que teriam sido reformados por empreiteiras alvos da operação.
Segundo a última pesquisa Datafolha, Lula é rejeitado por 46% do eleitorado —o pior índice entre os testados para a eleição presidencial de 2018. Apesar de liderar os cenários para o primeiro turno, não aparece numericamente à frente de nenhuma hipótese de segundo turno.
O ápice do desgaste culminou com o afastamento de sua afilhada política, Dilma Rousseff, da Presidência.
Nesse cenário, Lula decidiu mergulhar no ambiente que lhe é mais afeito. Passou a priorizar agendas com movimentos de esquerda e viagens ao Nordeste —na região, é o presidenciável preferido de 39% da população. APOIO A HADDAD Seguindo a mesma lógica, a cúpula do PT quer priorizar sua participação nas eleições municipais às periferias das grandes cidades, principalmente em São Paulo.
Durante convenção que formalizou a candidatura à reeleição do prefeito Fernando Haddad, no domingo (24), Lula mais uma vez usou o chapéu de cangaceiro e disse que era preciso “ir para a periferia falar com nosso povo”.
Diante da rejeição ao PT na cidade e dos 8% de intenção de votos de Haddad no Datafolha, a ordem na sigla é reconquistar o eleitorado petista, que perdeu musculatura nos últimos anos.
Lula tem se dedicado pessoalmente a isso, de olho não só nas eleições municipais, mas em sua biografia.
São comuns relatos de que o ex-presidente exibe agora certo “abatimento”, o que também teria favorecido a busca por sua “zona de conforto”. Aliados têm dito que ele se “re-energiza” e “ganha fôlego” ao desempenhar atividades com eleitores fiéis.
Há menos de duas semanas, no Nordeste, visitou assentamentos de sem-terra e cooperativas de agricultores.
Lula recorreu ao mesmo expediente em 2006, quando disputou a reeleição logo após o estouro do escândalo do mensalão. À época, fez campanha distribuindo panfletos na porta de uma fábri- ca de automóveis no ABC paulista, seu berço político.
Em 2010, quando tentava eleger a sucessora, repetiu a agenda em circunstâncias semelhantes ao lado dela.