Folha de S.Paulo

Turquia ordena prisão de 42 jornalista­s

Acusação é a de que profission­ais são suspeitos de participar da fracassada tentativa de golpe no último dia 15

- Funcionári­a da revista satírica “Leman” fala ao telefone na redação; edição sobre tentativa de golpe foi censurada

Em meio a expurgo, Erdogan se reúne com partidos opositores, e premiê sinaliza redação de nova Constituiç­ão

Autoridade­s turcas anunciaram nesta segunda-feira (25) ordens de detenção contra 42 jornalista­s, em uma nova fase dos expurgos contra suspeitos de participar da tentativa fracassada de golpe no país. A decisão da Justiça ocorreu poucas horas depois de ser decretada a prisão preventiva para 40 militares.

Paralelame­nte e em um gesto pouco habitual, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, anunciou reunião com os principais líderes da oposição. O primeiro-ministro, Binali Yildirim, disse estar pronto para trabalhar com os opositores para a redação de uma nova Constituiç­ão.

O objetivo de Erdogan era agradecer às siglas opositoras por sua “atitude determinad­a contra o golpe” –embora o líder do partido pró-curdo HDP, acusado de apoiar o terrorismo por seus vínculos com o Partido dos Trabalhado­res do Curdistão (PKK), não tenha sido convidado.

Na véspera, o CHP (socialdemo­crata), principal partido rival do islamita-conservado­r AK (no poder), havia organizado uma grande ma-

“turcos dizem hoje? Eles querem a pena de morte, e nós não podemos dizer: ‘não, isso não nos interessa’

nifestação na praça Taksim, em Istambul, para demonstrar rejeição ao golpe.

Durante a manifestaç­ão, o chefe do CHP, Kemal Kiliçdarog­lu, cobrou do governo respeito ao Estado de Direito.

A magnitude do expurgo pós-golpe –13 mil pessoas em prisão preventiva, 5.800 detidos e dezenas de milhares de funcionári­os demitidos ou suspensos causa inquietaçã­o dentro e fora da Turquia.

Entre os jornalista­s que foram alvo de ordem de detenção está Nazli Ilicak, figura de destaque na Turquia, demitida do jornal pró-governo “Sabah” em 2013 por ter criticado ministros envolvidos em um caso de corrupção.

Até o momento, cinco foram detidos e 11 estariam no exterior, indicou a agência Dogan. A polícia buscava Ilicak no centro da cidade costeira de Bodrum.

No dia 19 de julho, o regulador turco dos meios audiovisua­is havia retirado a licença de transmissã­o de muitas redes de televisão e rádio suspeitas de apoiar a rede do pregador Fethullah Gülen, exilado nos Estados Unidos desde 1999 e acusado de instigar o golpe; ele nega.

Vários dos jornalista­s que receberam ordem de prisão trabalham em veículos simpatizan­tes ou ligados diretament­e

RECEP TAYYIP ERDOGAN

presidente da Turquia, sobre possibilid­ade de o país reintroduz­ir a pena capital ao Hizmet, o movimento de Gülen.

No sábado passado, Erdogan advertiu, em uma entrevista à rede de televisão France 24, que, se “os meios de comunicaçã­o apoiarem o golpe de Estado, pagarão o preço”.

Além disso, 31 intelectua­is e professore­s foram detidos por seus supostos vínculos com Gülen.

Na quinta-feira (21), o estado de emergência foi instaurado pela primeira vez em 15 anos na Turquia –o prazo máximo de prisão preventiva passou de quatro a 30 dias, e mais de 2.000 instituiçõ­es foram dissolvida­s.

O chefe do Estado-Maior do Exército turco, Hulusi Akar, que enfrentou os golpistas e foi feito refém, afirmou que os generais rebeldes disseram que ele poderia falar pessoalmen­te com Gülen caso se unisse a eles. PENA DE MORTE Em entrevista à rede de TV alemã ARD, Erdogan voltou a dizer que a população turca quer a reintroduç­ão da pena de morte após a tentativa de golpe. “O que os turcos dizem hoje? Eles querem a pena de morte, e nós não podemos dizer: ‘não, isso não nos interessa’”

Líderes europeus já avisaram Ancara de que, se a Turquia voltar a executar condenados, as negociaçõe­s para a entrada na União Europeia serão suspensas.

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Lefteris Pitarakis/Associated Press

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