Folha de S.Paulo

Governo poderá controlar mercado de gás natural

Ideia é criar novo operador para garantir fornecimen­to depois que a estatal vender gasodutos

- NICOLA PAMPLONA

O governo estuda criar um operador nacional do mercado de gás natural, nos moldes do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), que controla o fluxo de energia no país. Ainda não há definição sobre o formato do novo órgão nem sobre como será financiado.

A medida faz parte de uma série de mudanças em estudo para preparar o mercado para a saída da Petrobras do setor, parte de seu plano de desinvesti­mentos. A Folha apurou que as diretrizes do pacote devem ser apresentad­as ao mercado em setembro.

Modelo em discussão é semelhante ao que existe no setor elétrico, mas ainda não se sabe como será financiado

O governo federal estuda criar um operador nacional do mercado de gás natural, nos moldes do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), órgão que controla o fluxo de energia no Brasil.

A medida faz parte de uma série de mudanças em estudo para preparar o mercado para a saída da Petrobras do setor, como parte de seu plano de desinvesti­mentos.

Segundo um funcionári­o do governo que acompanha as discussões, as diretrizes do pacote serão apresentad­as ao mercado no fim de setembro, em proposta de resolução do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE).

A ideia de criar o operador é consenso no mercado, diz ele, diante da necessidad­e de reduzir os riscos à entrada de novos fornecedor­es de gás.

Atualmente, a Petrobras é praticamen­te monopolist­a na produção e no transporte do combustíve­l e administra os fluxos de gás entre os campos produtores e os mercados consumidor­es por meio de um centro de controle no Rio.

A estatal negocia a venda de sua malha de gasodutos e terminais de importação de gás. Além disso, já informou ao mercado que não renovará totalmente o contrato de importação de gás da Bolívia, que vence em 2019.

A expectativ­a é que a companhia reduza à metade o volume contratado com o país vizinho, hoje em 30 milhões de metros cúbicos por dia, equivalent­es a 37,5% do consumo diário médio do Brasil.

Por isso, distribuid­oras de gás canalizado e indústrias consumidor­as já se preparam para negociar diretament­e com o governo boliviano contratos para a próxima década.

“Em um ambiente com múltiplos transporta­dores e fornecedor­es de gás, é preciso ter um organizado­r do sistema”, afirma o consultor Marcio Balthazar, da NatGas.

Ele explica que, além de definir os fluxos de gás de acordo com os contratos, o operador funcionari­a como uma câmara de compensaçã­o, coordenand­o as operações de compra e venda.

“Uma empresa vai injetar gás no Rio para venda a cliente no Rio Grande do Sul, mas não é o mesmo gás que chega lá. É preciso ter alguém que gerencie essa compensaçã­o”, explica o especialis­ta. ACESSO

Defensora da proposta, a Associação Brasileira dos Grandes Consumidor­es de Energia (Abrace) diz ainda que outra missão é garantir o acesso não discrimina­tório de novos fornecedor­es aos gasodutos, além de planejar a expansão da rede.

A figura do operador nacional é utilizada em países como Inglaterra, Espanha e Noruega, argumenta a entidade.

Ainda não há definição sobre o formato do novo órgão nem sobre como será financiado. No setor elétrico, o ONS é financiado por recursos arrecadado­s na conta de luz.

A resolução do CNPE está sendo discutida com os participan­tes do mercado e será submetida a audiência pública durante o mês de outubro, para eventuais sugestões.

Um pacote de medidas para o setor de gás está sendo estudado por um grupo formado pelo Ministério de Minas e Energia, pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e pela ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombust­íveis).

O grupo foi criado pelo ministério no fim de junho, para “mitigar riscos de ordem regulatóri­a sem representa­r entraves desnecessá­rios à entrada de novos agentes”, segundo nota distribuíd­a na época.

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Lucas Lacaz Ruiz -22.fev.2015/Folhapress Funcionári­os fazem manutenção em gasoduto da Petrobras

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