Ex-fotógrafo, diretor de ‘Life’ cai em tentação de filme lindo e oco
FOLHA
Filme de fotógrafo é uma categoria um tanto pejorativa usada para descrever a desmesura artística dos profissionais da imagem que, ao passar à direção, fazem filmes lindos e ocos. O holandês Anton Corbijn, em seu quarto longa, é o caso mais recorrente dessa tentação.
“Life - Um Retrato de James Dean” reconstitui a história real do fotógrafo Dennis Stock, autor da célebre série de imagens de James Dean publicadas, em 1955, pela revista “Life”. As fotos, registros sem pose de um jovem comum à beira de ser convertido em astro, projetam a aura da intimidade desarmada, sugerem uma verdade instantânea, um negativo da imagem fabricada em estúdio.
Ora, hoje mais do que nunca, sabemos que não existe esse tal “longe das câmeras”, que tudo passa pela representação. Portanto, o Dean largado que se vê nas fotos de Stock é tanto parte da construção de sua imagem quanto os personagens atormentados dos três filmes que ele fez.
O fascínio óbvio de Corbijn é pelo papel de Stock, a paciência do profissional que vislumbra um objeto incomum, aproxima-se e captura, a mística do olhar fotográfico, em suma. Por isso, o astro do filme, Robert Pattinson, interpreta o fotógrafo, não a estrela.
O personagem de Stock espelha o próprio Corbijn, que, antes de fazer cinema, ficou célebre pelos retratos dessaturados de estrelas pop, imagens cujo estilo “sem pose” não deixa de ser hiperconstruído.
Nesse jogo de reflexos, o que mais derruba o filme é a persistência no mimetismo. No papel de Dean, o ator Dane DeHaan assume a função de réplica de museu de cera.
A busca de DeHaan para representar seu modelo consiste em resmungar cada fala, uma das marcas da atuação de Dean. Só que, depois de dez minutos, esse artifício realista transforma “Life” em um filme que só dá para assistir com tampões de ouvido. (LIFE) DIREÇÃO Anton Corbijn ELENCO Robert Pattinson, Dane DeHaan, Peter Lucas PRODUÇÃO Reino Unido/EUA/Alemanha/Canadá/Austrália, 2016, 14 anos QUANDO em cartaz AVALIAÇÃO ruim