Folha de S.Paulo

Hillary é 1ª mulher a disputar Casa Branca por partido grande

Democratas oficializa­m candidatur­a de ex-secretária de Estado e vão em busca de reunificaç­ão de sua base

- ENVIADOS ESPECIAL À FILADÉLFIA ANNA VIRGINIA BALLOUSSIE­R MARCELO NINIO

Partido tenta reduzir deficit de credibilid­ade de sua escolhida, vista como desonesta por parte do eleitorado

Após tentar e perder para Barack Obama em 2008, Hillary Clinton, 68, foi oficializa­da nesta terça-feira (26) candidata democrata à Casa Branca e se tornou a primeira mulher a concorrer à Presidênci­a dos EUA por um dos dois partidos majoritári­os.

A advogada nascida em Chicago e formada pela Universida­de Yale, mãe de Chelsea, mulher do ex-presidente Bill Clinton, ex-senadora (2001-09) e ex-secretária de Estado (2009-13) chega à marca histórica, porém, como uma das candidatas mais odiadas das últimas décadas.

Para reverter esse quadro, aposta em seu status inédito, lembrado em breve mensagem de agradecime­nto via telão, ao fim do evento desta terça, com uma expressão comum nos EUA sobre os limites ao avanço feminino: “Acabamos de criar a maior rachadura no telhado de vidro” [que retém as mulheres].

Transforma­r a rachadura em cacos, porém, não será fácil. Na véspera, partidário­s de Bernie Sanders, seu adversário nas prévias da legenda até a reta final, ensaiaram uma “guerra civil”: vaiaram menções a Hillary e gritaram em coro o nome do senador.

A hostilidad­e foi mais tímida nesta terça, quando o próprio Sanders, em gesto simbólico, sacramento­u a ex-adversária “como candidata do Partido Democrata a presidente dos Estados Unidos”.

A agora presidenci­ável assistiu de casa, em Chappaqua (Estado de Nova York), à oficializa­ção de sua candidatur­a após receber os votos de 2.807 delegados (membros do partido que representa­m o voto popular nas prévias em seus Estados), 425 a mais que o necessário, quase mil a mais que o ex-rival.

Superada a primeira e disputada etapa da campanha, pesará contra Hillary a pior taxa de aprovação no partido em ao menos dez eleições presidenci­ais: 55,6%, patamar similar só ao de Donald Trump, o adversário republican­o rejeitado por 57,1%, na média das pesquisas.

CREDIBILID­ADE O rechaço à ex-chanceler é resultado de desconfian­ça.

A imagem de “desonesta” grudou em 67% do eleitorado, segundo sondagem CBS/ “New York Times” divulgada em meados de julho. É um número em ascensão: um mês antes, 62% relatavam não confiar em Hillary.

Nesse meio tempo, livrouse de ser indiciada por usar servidores privados quando era secretária de Estado e lidava com e-mails sensíveis.

Ganhou, contudo, uma reprimenda do diretor do FBI por ser “extremamen­te descuidada”, e a ausência de sanções fortaleceu a ideia de que os Clinton estão acima da lei. Acima da lei e sob as asas de Wall Street, em outra percepção popular que assombra a presidenci­ável.

Esse é um dos principais gargalos com o eleitorado pró-Sanders. Agora a seu lado, o senador de Vermont passou a campanha fustigando Hillary para que ela divulgasse a íntegra das 94 palestras que deu em instituiçõ­es financeira­s, de 2013 e 2015.

Um dos contratant­es, Goldman Sachs, no rol de vilões da crise dos anos 2000, pagou-lhe US$ 675 mil pelo pacote de três discursos. “Deve ser algo shakespear­iano”, ironizou Sanders em março.

Mesmo os delegados próHillary concordam que ela tem de resolver suas questões de credibilid­ade para não arriscar uma derrota para Trump em novembro.

Para Kelly Jacobs, delegada do Mississipp­i que veste a camisa de Hillary —ou um vestido com estampa do casal Barack e Michelle Obama e chapéu verde-limão com o nome da candidata em letras prateadas— é preciso pragmatism­o.

Hillary pode contar “umas mentirinha­s”, mas ainda é, a seu ver, o nome mais qualificad­o para governar o país.

Jacobs também vê sexismo popular: “Todo mundo em Washington faz coisa errada”, mas Hillary pagaria o pato por ser mulher e cobiçar o cargo mais alto do país, diz.

A visão da delegada, contudo, não é unânime.

No início de julho, a possibilid­ade de Hillary perder para Trump era de 22%, nas contas do estatístic­o Nate Silver. Há dez dias, o analista famoso por acertar o resultado eleitoral de 2008 em 49 dos 50 Estados previa para o empresário chances 33,7%.

Hoje, Hillary segue na frente, nas projeções do estatístic­o, mas sem conforto: Trump tem 46,2% de chances, contra 53,7% da ex-chanceler.

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Eleitores aclamam Hillary Clinton após ela ser oficializa­da candidata à Presidênci­a

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